Folha de São Paulo: Que impacto a rejeição do público causou em você?
Silvio de Abreu: O que me assustou não foi o fato de que o povo não estava gostando da novela, mas sim de que ele não estava entendendo. O que para as classes A e B é estimulante e positivo, para a D é incompreensível: todo o “feedback” que eu tinha de conhecidos era de que a novela era uma maravilha. Quando vi as pesquisas, caí do cavalo. O problema da TV é que quem manda na audiência é uma maioria que só busca entretenimento. Por outro lado, ninguém discute se o programa é ruim. O que interessa é o sucesso, que justifica qualquer coisa. Diante disso, fica difícil falar de qualidade, já que não é isso que as pessoas procuram na TV. Se o Ratinho faz sucesso, as pessoas pensam primeiro no ibope que ele dá. Hoje não se diz que a programação é boa ou ruim, os valores são numéricos. Isso, para nós que fazemos TV com responsabilidade, é desesperador, porque o truque barato é que garante o sucesso. Se eu tivesse direcionado a novela às classes D e E, teria conseguido audiência melhor. O país não permite que o nível intelectual melhore, mas proporciona melhor nível econômico a uma imensidão de gente que se tornou interessante para a TV porque consome sandalinha, biscoito, cerveja e móveis pagos em 538 prestações.
Tá na TV Folha da Folha de São Paulo de hoje.
Acredito que este trecho trata-se de uma questão muito séria, que nós chamamos de “ditadura da maioria”, (não sei falar quem criou o termo). O fato é que há tempos somos massacrados por escolhas diversas em nome de uma “democracia”, que para mim é falsa.