Eu adoro esse clima. Poder chegar a essa hora na s…

Eu adoro esse clima. Poder chegar a essa hora na sala e olhar através das duas sacadas a cidade branca. Uma visão de granularidade singular, com halos de luz alaranjadas, azul, verde marcando pontos em um espaço indefinido. Poder abrir a janela do quarto, sentir o ar nas mãos e ver uma corredeira densa e branca sob os postes de iluminação correndo a favor do vento. O asfalto úmido, as ruas vazias, os prédios tímidos dentro da névoa, uma sensação de solidão no tempo. Como se o tempo tivesse parado e eu fosse o único ser a presenciar tal desolamento, tal ausência de vida, tal silêncio.

Tempo. Relativo segundo Eistein, composto sob minha visão. Esses três últimos anos… 3 anos de faculdade, 3 anos de “A vida é cruel”, 3 anos fora de casa. Três anos e seis mulheres passaram por mim, acompanhadas de tantos outros amigos, professores, viagens, músicas. Tantas histórias, tantos momentos, tantos acontecimentos. Eu nunca mudei, aprendi e vivi tanto quanto nesses três últimos anos.

O passado é egoísta. Eu vivi e ninguém sabe disso. Ninguém conheceu meus sentimentos, minhas felicidades, ninguém fez o que eu fiz, ninguém sabe o que eu fiz. Esse blog diz muito. Mas muito pouco. Não diz nada. Não diz o que eu penso e eu penso muito. Penso na estrelinha de 3 anos atrás, penso na fadinha de 2 meses atrás, penso na minha primeira festa de república, penso na Casa do Café, penso num sorriso acompanhado de uma boca e uns olhos que muito me deslumbraram, penso numa noite sem dormir conversando no ICQ. Penso em meus amigos, minha cidade, minha casa, minha família. Eu sinto saudade do passado e de sua ausência no presente. Fico relembrando os bons momentos, sentindo falta, me lamentando. E ninguém sabe disso, ninguém sentiu o que eu senti, ninguém viu o que eu vi, ninguém viveu o que eu vivi. Ninguém passou pelo que eu passei. O passado é egoísta.

O Marcelo diz que não existe passado e não existe futuro. Concordo sobre o passado, mas nada digo sobre o futuro. Só existe o presente, o momento atual. Tudo que eu tenho de lembranças de algo que já aconteceu está na minha mente, nesse instante. Tudo que eu já vivi, tudo que eu já passei, tudo que eu já senti, tudo que eu já vi, tudo que eu já fiz, tudo não passa de um registro na minha mente. Só existe o presente mas eu me lembro de um passado que não existe mais. Tão boas lembraças que fazem eu perder meu presente relembrando-as só me faz crer que devo viver o momento da melhor maneira para que novas boas recordações eu tenha. Se em três anos tantos momentos me marcaram tanto, espero mais muitos momentos para o resto de minha vida para quando chegar no final, ter vivido. E ninguém saberá disso. Eis o sentido da vida.

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