Achei perdido no meu computador a parte inicial do relato do meu carnaval nesse ano. Transcreverei aqui:
Passei o Carnaval em São Tomé das Letras, na Fundação Harmonia, curtindo o “Carnaval Adrenalina”. Foi impressionante!
Sexta feira – 01/03/03
Procurei na Internet o mapa de onde era o Espaço Holístico Vera Cruz. Depois do trabalho peguei o metrô para a estação Santa Cruz, fui andando até o Espaço e lá encontrei várias pessoas com malas, esperando o ônibus. Quase que eu passei direto pela casa, mas senti cheiro de incenso e resolvi dar uma paradinha pra conferir se o número 622 era alí.
Conheci umas pessoas de Jundiaí alí, depois o ônibus chegou, colocamos tudo dentro dele e pelas 21:00 saímos. Teve um lanchinho de X com X, refrigerante, apresentação de cada um e sorteio do amigo secreto.
Chegamos na fundação de madrugada, eu fui dormindo a viagem quase toda. Sem lanterna, no escuro, fui ao camping procurar a “barraca com um lenço rosa amarrado na porta”. A última barraca que procurei (a última que faltava olhar) tinha um lenço de cor “negra” (pela falta de luz) e imaginei que fosse lá mesmo. Antes de abrir ainda sussurrei uns “mãe?”, “ananda???”, “tati!?” e fui abrindo já pensando na desculpa que teria de dar se não fosse a barraca… Felizmente a era a barraca certa, coloquei minhas coisas pra dentro, escovei os dentes e fiquei um tempão conversando com a Tati. Cheguei a ouvi até um “Henrique, vou te dar porrada!” vindo da barraca ao lado 🙂
Sábado – 02/03/03
Foi difícil acordar às 7:00 pra lanchar e estar às 8:00 no Celeiro das Antes, onde foi explicado como seriam as coisas, além de dançar um pouco, se esticar e balançar bastante.
Às 8:40 já estávamos pronto pra primeira aventura: Cachoeira do Flávio e Eubiose. No caminho paramos em uma caixoeira onde dava pra pular. Pulei, lógico, e ainda pulei da árvore duas vezes, convencendo até mesmo o Marcelo, que também pulou da árvore. Depois foi normal, cachoeira da eubiose, outras cachoeiras pelo caminho e cachoeira do Flávio no final, que estava tão cheia (de turistas) que mal entramos.
O ônibus com os Naftalinas já havia saído, na vãn do pessoal do Rio de Janeiro tinham algumas vagas, mas a maioria teria de ir a pé. Chamei o Marcelo pra ir correndo e ele topou, andamos um bom pedaço e na subida de um morro meus joelhos morreram, mas o Marcelo continuou, correu os 8km… O morro continuava por todo o caminho, só parávamos de subir quando tinha de virar pra descer pelo caminho que leva na fundação… nesse trecho eu voltei a correr, mas era um trecho pequeno.
Chegando (morto) na fundação, um bom banho gelado e para completar eu e Marcelo fomos no riachinho da fundação ficar uns minutinhos na água gelada.
Depois do almoço teve uma paletra com o Mestre onde ele falou sobre Carnaval, Páscoa, Cristo, Sexo, Tantrismo… a palestra foi muito boa e me faz pensar até agora em novos valores e idéias. Muitas das teorias e idéias que eu tinha sobre Deus, religião, Cristo, universo, ondas e percepções sensoriais se tornaram coesas e consistentes umas com as outras.
Saímos da palestra por volta das 6 horas, jantamos, tomamos um banho e fomos pro teatro sobre ética e sobre ciganos (ambos eu já havia visto no reveillon, que estava melhor). Eu estava morto da corrida e já ia dormir quando falaram que ia ter passeio noturno até a Cachoeira da Eubiose, então fiz um esforço, fiquei até o fim da dança cigana, me aprontei e fui pra cachoeira. Diferentemente do reveillon, quando estávamos com bastões de luz química, dessa vez só portávamos lanterna. Fui o primeiro a entrar correndo (literalmente) na água gelada, mas não fiquei muito tempo. Entrei debaixo da cachoeira, dei uns gritos e já saí pra me secar. Estava muito frio! Chegando na barraca deitei e dormi.
Domingo – 03/03/03
A meditação estava marcada pras 6:30 mas o Joseph foi bonzinho e mudou pras 7:30. Mesmo uma hora depois, foi difícil acordar cedo… o cansaço da corrida ainda estava no corpo! Mas uma vez lá, a meditação foi bem legal. Ficamos andando de olhos fechados, mexendo o corpo e imitando animais. As meditações da fundação são bem legais.
Café da manhã reforçado com cookies de cereais, que são deliciosos, nos arrumamos e fomos pra Caverna da Bruxa. Adrenalina e naftalina foram andando juntos, até chegar em uma pinguela, por onde seguiu adrenalina. Naftalinas foram até a cachoeira ficar sossegados recuperando as energias da (curta) caminhada. Nós da adrenalina ainda andamos muuuuiito até chegar na entrada da Caverna da Bruxa.
Dentro da Caverna da Bruxa, fomos andando, eu ajudando as pessoas atrás a descer algumas pedras até chegar em um grande salão. Neste saláo apagamos as lanternas e na mais profunda escuridão fizemos preces e recitamos mantras.
Quando já estávamos satisfeitos, o Gustavo disse que continuaríamos. No outro lado do salão tinha uma passagem estreita, uns 50 centímetros na parte mais larga e 20 do chão até a altura da cintura, com uns 3 metros de altura e 1 de profundidade. Passar nisso foi fácil, o problema é que depois de uns 2 metros dentro dessa “vala”, ela acabava e deparáva-mos no alto de um paredão de uns 5 metros de altura! Para descer tinhamos de segurar em uma corda, amarrada em uma madeira presa no chão e fazer altos malabarismos para passar uma das pernas pela abertura de 20 centímetros enquanto a outra segurava o peso do corpo no chão (chão da vala, alto do paredão). Com todo o peso do corpo em uma perna e na corda, íamos soltando o corpo, que depois de passar pela abertura da vala conseguia pelo menos colocar os dois pés no paredão e fazer um rapel pela pedra de são tomé que de tão úmida parecia uma pilha de areia dura mais áspera que lixa.
Para segurar as pessoas que passavam por essa vala, ajudando-as e impedindo que elas soltassem a corda ou se jogassem lá de cima (como algumas fizeram), uma pessoa (de pernas compridas) tinha de ficar com as pernas esticadas apoiadas nas duas paredes laterais desse salão, uns 3 metros acima do solo, sem segurança nenhuma. Isso foi adrenalina! Eu, o Gustavo e o Luciano ficamos nos revezando nesse serviço que cansava e forçava muito a perna esquerda…
Depois que todos desceram (e muitos ralaram) pela pedra, o pior (poisé… cheia de surpresas a cachoeira) ainda estava por vir… Eu e mais duas pessoas (das 37) eramos as únicas que estávamos com o tênis seco, eu fazia contorcionismos pras duas pernas ficarem apoiadas na parede da caverna, não tendo de colocar o tênis na água! Chegou uma parte onde tínhamos de passar agachados como galinhas, e o melhor, dentro d’água! Uma água escura, cheia de escremento de morcego, na altura dos joelhos. Pelo caminho ainda tinham túneis onde só dava para passar arrastando no chão, de lado, pois o túnel era ligeiramente mais alto que largo, se arrastando no cão cheio de água e caindo em poços com água até o joelho ao saír dos túneis. Andar de joelhos, se arrastar no chão como soldados e “nadar” nos poços com água preta foi comum no percurso. A mão já estava suja do coco de morcego nas paredes, a lanterna cheia de areia e semi-molhada, a roupa esfolada na pedra, encharcada e suja. Pelo menos a máquina fotográfica da minha mãe eu lutava para manter seca! Sair da vagina da bruxa, renascer e ver uma água transparente correndo pela cachoeira foi um convite pra se jogar e banhar nas águas cristalinas que desciam pela cachoeira. Mas como nem tudo é perfeito, foi o tempo de tomar um “banho” e já tínhamos de ir embora…
Na volta ainda pulei da pinguela (a água dava na altura da cintura) e também pulei da margem do rio da pinguela, duas vezes, de cabeça… na margem a água dava quase na altura dos joelhos!
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