Até hoje eu não falei do melhor acontecimento do ano. No sábado de manhã, mesmo sem os furões que tinham prometido ir, eu e o Jonas Coelho fomos na cachoeira do Urubú. Depois de pegar o latão (como diz o Zé) e depois caminhar quase duas horas, chegamos a uma queda d’água de mais ou menos 7 metros (a gente acha que tem isso). O Jonas foi o primeiro a pular. Vencendo o medo, pulei pela primeirar vez de uma altura maior que 50 centímetros… A sensação é indescritível. O barulho da cachoeira do seu lado, a pedra que se inclina até simplesmente acabar e lá em baixo uma água escura num canyon com paredões de pedra que somem na água. Uma pedra lisa, quase azul, que brilha ao sol e se mostra imponente, invisível ao tempo… de repente é só água sob seu corpo, cada vez mais perto, até que apenas o borrão marrom da água preencha seus olhos, para depois emergir e ir pular de novo.
Mesmo depois de já ter pulado três vezes, a altura com a água calma lá em baixo ainda causava um receio, um certo medo que só sumia quando eu já estava correndo em direção ao vazio, quando já não havia mais volta.
Tais prazeres simples da Natureza tiveram seu preço. A pedra quente queimava a sola de meus pés, a trilha que saía da água e ia até a pedra lá em cima, de onde puláva-mos era de um cascalho irregular e quente, que machucava e fritava os pés. Pobre pés, que tiveram de agüentar quase duas horas de caminhada sobre um par de sandalhas incertas na ida e na volta ainda tiveram de dividir a sandalha mais incerta ainda com a areia úmida, que atritava e machucava ainda mais. A sandalha também é maldosa e sobre o sol das duas da tarde não protegeu o pé como deveria. Pobre de mim, que fiquei com os pés litrados da brancura de minha pele e do vermelhão radioativo do sol.
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