Resumo de Livro para o Vestibular

Quando mais próximo do vestibular, mais pessoas caem aqui procurando resumos de livros. Fiz então uma lista dos mais procurados. Tem link para baixar gratuitamente a obra na íntegra, link para comprar ou, para os mais afoitos, link para o resumo.

Resumos retirados de:
Portal das Letras, de Hélio Consolaro
Net Saber
Algo Sobre
Shvoong

Downloads retirados da:
Fundação Biblioteca Nacional

Não encontrei os resumos abaixo. Se alguém souber, poderia me dizer onde encontrou, nos comentários?

26 Poetas Hoje com organização de Heloísa Buarque de Holanda
Belem do Grão Pará de Dalcídio Jurandi
Melhores poemas de Gilberto Mendonça Teles
O corpo de Larcodaire Vieira
O Tempo é Chegado de Euclides da Cunha Neto
Os Becos do Homem de Jorge de Souza Araujo
Os Melhores Poemas de Ferreira Gullar
Ponciá Vivêncio de Conceição Evaristo
Recado do Morro de Guimarães Rosa

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359 Comentários.

  1. Oii Juliany!

    Eu vi que vc tbm estava querendo o resumo de Bóris e Dóris.

    Olha, eu achei um resumo comentado sobre a obra no site:

    http://www.passeiweb.com

    vc clica no link ~Livros Obrigatórios~ no lado esquerdo da tela.

    Vai aparecer um mapa do Brasil, daí escolha o estado de Mato Grosso do Sul, pois essa obra cai aqui tbm. Vc seleciona logo após a universidade: UFMS.

    Depois vai aparecer a relacão de obras.

    Finalizando: só clicar em Bóris e Dóris. Rsrsrsrs.

    Espero ter ajudado.

    Bjos

    Que DEUS a abencoe!!! 🙂

  2. Por favor alguém tem o resumo do livro Bóris e Dóris.

    mande em meu e-mail: [email protected]

    Grata…

    Que DEUS te abencoe! 🙂

  3. Vocês são autamente desatenciosos com os vestibulares cearences nenhum dos livros foi encontrado aqui!
    Site inprestável
    de nada
    xD

  4. não encontrei os resumos :
    luiz vilela Boris e doris
    machado de assis melhores contos e
    manoel de barros memorias inventadas : infancias

    necessito para prestar vestibular ….

  5. quero recerber o resumo do livro por gentilesa Milton Hatoum. Órfãos do eldorado
    Larcordaire vieira. O corpo
    Lêda Selma. À Deriva

  6. Preciso do resumo do Vôo da Guará vermelha!!!

  7. Queriia o resumOO dO livrO A Festa, de Ivan Angelo.
    Por favOr!

    Obrigadaah!

    Beejo!

  8. O Vôo da Guará Vermelha (Maria Valéria Rezende)
    Homens e Algas (Othon D’Eça)
    Chica Pelega A Guerreira de Taquaruçu

    preciso urgenteeeeeeee

  9. Preciso de O menino e o bruxo

  10. por favor alguem me ajude preciso do resumo do livro NOVA ANTOLOGIA POÉTICA, de afonso felix de sousa é pra estudar pro vestiba.

  11. preciso encontrar o resumo do livro de Afonso Felix de Sousa
    NOVA ANTOLOGIA POÉTICA, é pra fazer o vestiba me ajuda ai
    gente desse geito vou ficar louca isso aqui me confundiu ainda mais.

  12. Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.
    Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando p

  13. (Continuação)

    Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.
    Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Ante

  14. Oh o resumão ai!

    A morte de D. J. em Paris (Livro), de Roberto Drummond

    A morte de D. J. em Paris, livro de contos de Roberto Drummond, publicado em 1975, foi considerado um marco do pós-modernismo na literatura brasileira. Repleto de referências a ícones da cultura pop, a narrativa desconexa e sempre inconclusa convida o leitor a participar do texto de múltiplas possibilidades de interpretação. Por todas as inovações estilísticas e de linguagem, a obra teve o imediato reconhecimento acadêmico tanto no Brasil como no exterior e gerou vários estudos e teses.

    Em dez contos emblemáticos, o escritor mineiro revela a delicada fronteira entre realidade e fantasia. O clima urbano, a linguagem pop e direta permite que o leitor se torne cúmplice destas narrativas curtas sobre o homem contemporâneo e seu mundo fragmentado e paradoxal. É a prisão que liberta a moça na janela, são os homens de óculos ray-ban, as diáfanas mulheres de azul, os sonhos feitos de caixas de sabão em pó. É nosso cotidiano de pequenas anormalidades.

    Drummond não constrói seus personagens pelo ponto de vista do narrador tradicional, mas identifica-os pelas marcas-registradas que codificam o mundo moderno – é a marca do cigarro, da escova de dentes, do refrigerante. Perdidos em meio à selva iluminada das metrópoles, seus personagens só sobrevivem porque sonham. Sonham tanto que já não é tão importante saber exatamente onde estão.

    As narrativas, cujo espaço é urbano, são curtas, com linguagem direta e concisa. Tematizam os problemas do homem moderno e de seu mundo fragmentado e paradoxal. “Dôia na Janela” é o primeiro conto do livro. Nele, Drummond traça um painel das contradições da sociedade brasileira, à medida que conta a história de Dôia, uma jovem, provavelmente, vítima de patologia psiquiátrica, encerrada em um local que parece ser uma clínica. Seguimos o caminho de Dôia, buscando pensar a relação entre cultura e literatura, especialmente o caráter híbrido da personagem e seu mundo.

    No conto “A morte de D. J. em Paris”, que dá título ao livro, por exemplo, um professor de literatura, D. J., personagem central do conto, transforma seu sótão numa Paris imersa em tons de azul. Paris para D.J. era o Paraíso. Lá ele encontraria a “femme bleue”, o protótipo da mulher feminina, da mulher ideal, mais sensível e bela. Antes de ir à Paris, encontra-se com os amigos, para assistir futebol. Cantam, tomam cerveja, fumam. Alguns dias após, parte para Paris, onde finalmente, encontra a mulher azul e outros amigos com os quais recorda-se do Brasil. As irmãs de D.J. aparecem em Paris. Na verdade, era uma irmã, que ora aparecia como uma beata, ora aparecia como um moça sensualíssima e avançada para a época.

    Agora D. J. está morto e sendo julgado, assim morto, por algo de que o leitor não sabe o que é. O que teria acontecido com D. J.? Estaria morto em meio aos seus cartões-postais ou belo e jovem flanaria pela cidade-luz? Quem seria capaz de decifrar seus desejos naquele inquérito policial? Portanto, o conto nos deixa a questão não explícita de D. J. estar morto ou não.

    Através do personagem D. J., Roberto Drummond une espaços diferentes, como Minas/Brasil, Belo Horizonte e França/Paris a tempos diversos, traçando Paris dentro de Minas, no quarto de D. J., no coração do Brasil, em “nossos tempos clandestinos”. A “pátria azul” e a “mulher azul” apontam para um desejo de transformação daqueles tempos.

    Os demais contos do livro estão nesta linha literária do fantástico, uns um pouco mais fechados quanto ao significado, outros mais ácidos, terríveis, surrealistas, como “Isabel numa 5ª feira”.

    Neste conto, o narrador-personagem narra a um interlocutor sua história com a personagem Isabel. Faz isso numa praça onde vai todas as últimas quintas-feiras do mês juntamente com um “exército de homens, esperar Isabel para vê-la com seu andar de Ava Gardner.

    O narrador afirma ter vivido um romance com a personagem. Deixa claro que era ela quem dava as diretrizes do relacionamento, tanto que determinou que eles só teriam relação sexual na sétima quinta-feira depois de Pentecostes. E assim se deu. Depois disso, ele engordou 20 quilos, não dorme à noite, conversa com os pirilampos ou fica uivando se a lua é loura.

    Há vários espaços no texto. Da forma como foram articulados, parecem mais quadros que vão se sobrepondo para que a história possa contecer. Temos a praça que é o espaço em que o narrador conta sua história para o seu interlocutor; a fazenda onde o narrador-personagem estava quando resolve ir embora para se encontrar com Isabel; o apartamento (sala) em que ocorrem os encontros; as lembranças (sobretudo aquelas que se referem à seçã de conselho sentimental) e por fim, a casa hollywoodiana em que se concretizará o relacionamento amoroso.

    Nestes diferentes espaços, temos, além de outros índices, a ilusão de que esta é uma história real. Os espaços são, aparentemente, comuns. No entanto, olhando-os de forma atenta, podemos percerber a anormalidade que os ronda. Consideremos a praça. Há palmeiras, caramanchão… tudo (aparentemente) normal. Mas é possível perceber que aquela não é uma praça comum. Há algo de fantasmagórico nela. A plasticidade é forte e contribui muito para o mistério ali existente. Também a fazenda é incomum. Tem uma vaca Pecadora, barulho de moscas voando que se confunde com o dos aviões que passam… A casa hollywoodiana já nos remete diretamente ao mundo da não realidade. Parece que o único lugar normal é o apartamento, no entanto, é nele que o mistério é anunciado: o grande encontro só poderá ocorrer na sétima quinta-feira após Pentecostes; é lá que o narrador recebe uma carta supostamente escrita pela mãe de Isabel para uma seção de conselhos sentimentais na qual anuncia que sua filha, fica com a cor de rubéola, e os homens devem ter muito cuidado se ela estiver com esta cor…

    No conto parece que o fantástico está “encurralado” no real. Os elementos esquisitos estão inseridos na narrativa de modo a não nos causar nenhum espanto. Convivem com as personagens e nos são relatados de modo a parecerem completamente integrados à realidade. Logo no começo do conto, por exemplo, o narrador, aos nos relatar seu encontro com Isabel, diz-nos que “as cotovias da blusa Cardin que ela usava começavam a voar e a cantar como a Ima Sumac”. Em um outro momento, avisa-nos que Isabel era estranha, mas seus argumentos são incapazes de nos levar num primeiro instante a entender “estranho” como algo sobrenatural.

    Isabel sempre foi estranha: colecionava receitas culinárias, recebia cartas com receitas de Hong Kong, era a favor dos Estados Unidos na América Latina e contra os Estados Unidos no Vietnã, chamava Fidel Castro de cortador de cana do Caribe e bastava falar em Che Guevara para ficar com um cisco nos olhos e querer morrer na selva da Bolívia usando o nome de guerra de Tânia, com um tiro no coração e cantando “Me encontré um angelito, corazón se fue” e suspirava e vinha, e com você talvez tenha acontecido o mesmo, era uma Isabel só de suspiros e de silêncios e de promessas, a voz sumida, jurando:
    — Na sétima 5ª feira depois de Pentecostes…

    Como no fragmento acima, o texto todo é pontuado por traços da realidade, referências a pessoas e lugares conhecidos, todavia, no meio deles, aparecem “encurralados” fatos realmente estranhos, que fogem àquilo que consideramos normal. O narrador-personagem mostra saber (pelas cartas que lia das colunas sentimentais) que Isabel leva um pedaço de seus amores; que ela sabe dos golpes militares três meses antes de eles acontecerem; que ela sabe que Frank Sinatra tem uma cicatriz seis dedos abaixo do umbigo (um lugar, no mínimo, suspeito. No conto não há tentativa de transgressão, mas sim de aguçar nossa percepção para vermos a outra a realidade existente. Assim, a literatura fantástica seria uma porta para que se possa entrar e ampliar a visão da realidade, criando em nós a possibilidade de enxergar aquilo que a percepção entorpecida não consegue ver.

    Quem nos abre essa porta é o narrador. A narrativa em primeira pessoa traz um certo desconforto para o leitor do conto fantástico, pois sempre ficará a pergunta: será esse narrador um louco ou não? Essa ambigüidade é necessaria para que o fantástico ocorra. Como vimos, no conto o narrador é também personagem. É pela sua mão que vamos sendo conduzidos a desafiar o cotidiano, que é muito bem marcado, no texto, pelo universo da cultura de massa: produtos do dia-a-dia – sabonete Lever, revista Playboy, blusa Cardin, loja Sloper, Alka Seltzer (remédio), cinema, moda etc. – que vão sendo traduzidos pelo narrador, estranhos ao nosso conceito real. É, também, o narrador quem nos conta que Isabel é perifosa.

    Em alguns pontos da narrativa, podemos dizer que o narrador e personagem parecem pessoas distintas, ou seja, o narrador, quando revestido deste papel, é esperto, já tem o saber, a experiência; enquanto que o personagem, dada a distância temporal, revela-se ingênuo. Entrega-se ao amor, à paixão como um adolescente. Não se importa com as conseqüências, quer ter Isabel e luta por isso até o final. Já o narrador (quando revestido somente deste papel) sabe do perigo que Isabel representa e se coloca no papel “salvador”. É a ele que a “luz” é pedida (a conversa com o interlocutor se inicia porque o mesmo pede um fósforo para o narrador e ele vê nos olhos daquele, que ele estava ali esperando por Isabel) e, por isso, tenta dissuadir o interlocutor de esperar Isabel e, conseqüentemente, de se “perder”. O narrador sabe de tudo quando começa a nos contar sua história, mas vai relatando os segredos à medida que a narrativa flui e mesmo assim de forma obscura. Temos que ir recolhendo pelo caminho peças, dados que ele vai jogando como quem não quer nada.

    Em vários momentos, o narrador nos dá índices de que Isabel é uma vampira. Porém, faz isso de forma discreta, de modo que os fatos estranhos estejam misturados à realidade. Todos os elementos do texto nos remetem ao mundo dos vivos, mas não raro hesitamos se o descrito pertence mesmo ao real.

    Vemos que o conflito se encontra na tentativa de o narrador-personagem se desligar de Isabel, que é frustrada. Por quê? Esta pergunta ocorre tanto com o interlocutor quanto com o leitor. Será ela uma vampira ou apenas uma mulher fatal? Os índices são apenas índices e não nos levam a nehuma certeza. Não há como afirmar se o narrado é real ou não. O final da narrativa sugere com maior intensidade o lado sobrenatural, este entendido aqui como transgressão das leis que organizam o mundo real. Porém, não há informações apenas sugestões.

    “Um homem de cabelos cinzas” é divertido, bem humorado, sútil para detalhes ridículos do dia-a-dia, que por vezes nos escapam. A história é sobre um homem de cabelos cinza do qual as organizações ditas de segurança locais, desconfiam que seja um grande malfeitor, espião.

    Anúncios luminosos como os da Coca-Cola ou dos pneus Firestone, por exemplo, preenchem as noites da protagonista do conto “Dôia na janela”. Confinada num hospício, da janela de sua prisão, amparada pelas grades, Dôia se recolhe num refúgio de segurança, de onde olha o mundo, feito de imagens e objetos de consumo. Por um toca-fitas chegam-lhe as “vozes e barulhos de sua casa”, como o “pigarro do pai”, o “canto do sabiá” ao fundo. Sobre esses fragmentos de realidade Dôia constrói seu próprio universo. É a partir deles que ela sonha e imagina cenas que poderiam se passar lá fora: “certas noites, o único consolo de Dôia era aquela garrafa enchendo um copo de Coca-Cola. Dôia se imaginava usando uma calça Lee desbotada e tomando uma Coca num barzinho ao ar livre”. Às vésperas de receber alta, seu inconsciente simula uma crise, que lhe assegura a permanência nesse mundo: uma cena de transplante de roseira, no jardim em frente à sua janela, é vista por Dôia como a crucificação de um homem. A cena, reconstruída pela imaginação da personagem, é uma singular bricolagem de elementos do imaginário religioso, transformados por imagens da cultura de massa: o homem crucificado tem a idade, os cabelos e a barba de Cristo, mas usa calça Lee, camisa Adidas, cueca Zorba e se parece com Alain Delon e Robert Redford.

    Os contos de Roberto Drummond tematizam o relacionamento entre realidade e fantasia, sonho e cotidiano, loucura e sanidade, individualismo e coletivismo, liberdade e prisão, cultura e barbárie, ficção e real. Os frágeis limites entre esses universos são questionados, demonstrando-se a interação profunda entre os diferentes níveis de realidade, como ocorre na cena da crucificação vista por Dôia, em que elementos do imaginário religioso se mesclam com imagens da cultura de massa e fragmentos do mundo exterior.

    O autor traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada. Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo.
    Endereço: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_morte_de_d_j_em_paris

  15. Muito + muito irritado

    Isso aqui não me ajudou em nada,pelo contráio fiquei mais desinformado do que quando entrei!!!

  16. preciso do resumo de CIUMENTO DE CARTEIRINHA de Moacyr Sciliar
    obrigada!!

  17. oi pessoal!!!!
    to precisando muitooo do resumo do livro til de jose de alencar
    alguem poderia me ajudar por favor!!!é serio gente to mt apurada to precisando mt desse resumo alguem aii poderia me ajudarr????

  18. Oi, preciso do resumo de alguns livros pro meu vestibular.É meio urgente:
    Toda poesia – Ferreira Gullar,
    Sonetos – Florbela Espanca,
    Melhores poemas, de João Cabral de Melo Neto e
    Melhores poemas, de Manuel Bandeira.

    Se for possível, mandar por email.

    Obrigado

  19. Juciele… se vc olhar com calma os comentarios anteriores irá encontrar os resumos q precisa..
    Principalmente Homens e Algas.. q está a poucos comentarios antes do seu!

    Boa sorte e ótimo vestibular!

  20. Preciso urgente o resumo do livro O Menino e o Bruxo de Moacyr Sciliar!!
    Agradeceria muito se fizessem isso para mim

  21. Adorei os resumos..
    mas preciso de mais dois resumos..
    se puderem me passar.. ficarei muito grata..

    O Vôo da Guará Vermelha (Maria Valéria Rezende)
    Homens e Algas (Othon D’Eça)

    deste já agradeço.. [2]

    obs: incluindo o resumo do livro
    Chica Pelega: A guerra de Taquaruçu (A. Sanford de Vasconcellos)

  22. Alguém chegou a comprar algum livro?

  23. Luiz, você passa a lista dos livros que você tem?

  24. Oi, gostaria do resumo do livro O CORPO de Lacordaire Vieira. O mais rápido possivel desde já agrdeço.

  25. Eu não achei o resumo
    do livro Boca de Chafariz

  26. Tenho análise de vários livros. Auto da compadecida tenho um completaço bem como os que vão cair na UFMG que são todos completaços. Analise de + de 50 páginas.

    R$ 25,00 todas. Quem quiser me mande um e-mail.

    [email protected]

  27. Preciso tbem do resumo do livro Os becos do homem (Jorge de Souza Araujo)

  28. Achei no seu site 6 dos resumos que estava proucurando,excerto
    O Tempo é chegado ( Neto,Euclides) mande para meu email
    se encontra-lo.Desde ja agradeço pelos resumos.
    Grande abraço.

  29. Daniel, obrigado pelo resumo!

  30. Na dúvida, posto aqui:

    EdUFSC relança Homens e algas, um dos principais livros
    de Othon d’Eça, que fala da vida dura dos pescadores de
    Florianópolis durante a primeira metade do século passado

    Homem de berço, erudito e bem relacionado, Othon d’Eça teve influência marcante sobre uma geração de escritores em Santa Catarina. Foi por seu empenho, e de mais alguns autores da segunda década do século XX, que se criou, em 1920, a Sociedade Catarinense de Letras, atual Academia Catarinense de Letras. Foi juiz de direito, viajou pelo Estado acompanhando o governador Adolpho Konder (roteiro que originou o livro . Aos Espanhóis Confinantes), chegou ao posto de secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública e deu aulas na Faculdade de Direito de Santa Catarina. Foi como escritor, contudo, que seu nome passou para a posteridade. E seu livro mais importante, Homens e Algas, chega agora à quinta edição, por iniciativa da Editora da UFSC. O que chama a intenção na obra, além do formalismo da linguagem, é a extrema sensibilidade com que um homem de formação refinada aborda a vida de privações dos pescadores de Florianópolis, em especial dos que moravam nas vilas do Continente, até então pouco habitadas. O livro é de 1957, mas começou a ser escrito bem antes, em 1938, época em que o autor costumava descansar em sua casa de férias, na praia de Coqueiros. Nesses períodos de folga, Othon d’Eça criou o hábito de conversar com os moradores da redondeza, e nessa lida descobriu o cotidiano nada romântico e glamuroso dos pescadores, então desprovidos de barcos a motor, salário fixo e qualquer tipo de assistência pública. O sustento vinha da pesca diária, e eram comuns a fome, a doença e, com grande recorrência, a morte no mar. Os relatos de Homens e Algas são pungentes, porque repletos de cenas de desespero, de famílias ceifadas por temporais, de homens que morriam na labuta e tinham seus corpos despejados em alguma praia, parcialmente carcomidos, dias depois de sumirem na tormenta, a bordo de canoas a vela sem qualquer segurança. O estilo é rebuscado, pródigo em adjetivos, como ainda convinha a muitos escritores catarinenses da primeira metade do século passado, presos à formalidade da literatura dos períodos anteriores. Rebuscar parecia dar provas de sabedoria, de erudição, de dominar um vocabulário extenso. Mas o que fica da leitura de Homens e Algas é a grande solidariedade do autor com homens que passavam a vida na miséria, minados pela privação e pela doença, até morrerem no mais absoluto anonimato. E esse destino não perdoava nem jovens e crianças, habituados a ir buscar bem cedo o sustento no mar, à mercê do vento sul e das trovoadas, sem chances de sobreviver diante da grandiosidade das ondas e das borrascas. “Não fiz ficção”, disse Othon d’Eça em depoimento ao jornal Roteiro, de Florianópolis, em 1958, e reproduzido nesta edição da EdUFSC. “Não inventei enredos, não criei personagens, não colori com tintas falsas os meus tipos e as minhas paisagens”. Anos depois, ainda inóspito, Coqueiros passou a ser o balneário preferido das famílias da Ilha, com seu “luxo catita”, na expressão do autor. Ali, escreveu ele, “hordas elegantes” expulsaram, “com vagar, método e bangalôs, das suas velhas moradas, os velhos nativos”. Na memória do escritor, ficaram para sempre as imagens de figuras desmazeladas e sem perspectivas, testemunhas de um tempo difícil, com parte das quais privou de uma amizade sincera e sem afetações. Por isso, talvez, o livro tenha contemplado o leitor cm alguns textos menos dramáticos, impressões de praias da Ilha ou do litoral catarinense, descritas com poesia e adjetivos de deslumbramento. O caldo dessa mistura poderia ser o que o escritor Flávio José Cardozo chama, numa das orelhas desta edição, de “um livro riquíssimo em formas e cores, vozes e sentimentos”. A obra integra a lista dos títulos do próximo vestibular da UFSC.

    (Por Paulo Clóvis Schmitz)
    Homens e Algas
    Othon d’Eça

  31. Oi Pessoal

    Para quem como eu estava procurando deseperadamente, achei um resumo do livro “Homens e Algas”, publicado pela editora da UFSC, a mesma editora que publicou o livro.

    alguém sabe onde posso postar?

  32. Merda!

    Kd o resumo do livro o monstro!?!?!

  33. bagasso n axei “Ciumento de Carteirinha” se alguem puder me ajudar …
    Grato.

  34. oi eu preciso do livro Homens e Algas do Othon D’Eça poderias mandar pro meu email o resumo? não o encontro em nenhum local! desde já agradeço

  35. Olá, estava prcurando o resumo do livro de Othon D’eça- Homens e Algas, tem como coloca-lo ai?
    Obrigada!

  36. oi
    to precisando urgente do resumo memorias inventadas a infancia de manoel de barros
    to desesperada
    se alguem tiver me manda
    [email protected]
    [email protected]
    desde ja agradeço.

  37. qero o resumo do livro
    Boca de chafariz…
    de rui morão…
    qero o mais rapido possivel ..

  38. Eu preciso das seguintes obras:

    O Vôo da Guará Vermelha ->Maria Valéria Rezende .
    Homens e Algas -> Othon D’Eça .
    O Código das Águas Global -> Lindolf Bell .

    Se alguém tiver,por favor me envie. 🙂

  39. Esse site é uma porcaria, num tem nenhum q eu queria!
    Preciso urgentemente de Boca de Chafariz, de Rui Mourão!

  40. Preciso do resumo
    O Tempo É Chegado – Euclides Neto

  41. não encontrei o resumo de:
    ciumento de carteirinha de moacyr scliar

    to precisando urgentemente dele….

  42. Não encontrei o resumo

    Melhores Contos de Osman Lins de Sandra Mitrin

    To precisando muito dele …

  43. Oi precisava do resumo do livro Chiga Pelega!
    Vai cair na prova da udesc.

    Se alguem tiver me manda!
    [email protected]

    Obrigada

  44. mano, to precisando urgentemente do livro Boca de Chafariz, de rui mourão.. tente achar ai =/

    muito completa essa lista.. ta de parabéns…

  45. Não achamos o resumo do livro “Cartas Chilenas-Tomás Antônio Gonzaga”…
    Se encontrarem, por favor enviar para o meu e-mail…!!!!
    Precisamos com urgência!!!!!!
    Por outro lado, o site é ótimo….tem bastante variação de resumos de livros de diversos autores……Parabéns!!!!!!

  46. num tem lusiadas !

  47. oie eu precisava do resumo do livro “melhores contos” de machado de assis se puder me ajudar e me mandar por imail desde já agradeço

  48. divanildo dos santo

    nao encontrei o resumo do livro ouga

  49. Eu estou procurando pelo resumo dos livros para o vestibular da UFC – CE, só não achei o “Notícias de bordo” de Linhares Filho.
    Vocês tem como me ajudar?

  50. eu queria q vc coloca-se o livro O Quinze de Raquel de Queiroz completo q q possamos baixar…
    obrigado!!!

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