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365 peças de um quebra cabeças

A mente anda atarefada
Mas no hiato pensa uma peça
Um pedaço de um conto de fada
E de novo, tudo começa…

Qual peça é não interessa
Seja um olho, seja um cheiro
Todo o conjunto vem à cabeça
E gera a figura por inteiro

O tempo voa, o tempo pára
Como num filme toda peça passa
Mas cada vez mais clara…
Some como se fosse fumaça

Lembrança ou sonho? Fantasia ou Real?
Através da razão, busco a resolução
A imagem é nítida, a sensação surreal
Mas sem decisão, não vejo solução

Pátria Madrasta Vil

Redação da universitária Clarice Zeitel Vianna Silva, de 26 anos, estudante de direito na UFRJ. Foi eleita a melhor redação dentre as 41.329 enviadas para o concurso de redações para universitários brasileiros promovido pelo jornal Folha Dirigida e pela UNESCO Brasil com um tema de inquestionável relevância para o futuro deste milênio: como vencer a pobreza e a desigualdade. Um livro trilingue com as 100 melhores foi publicado e está disponível gratuitamente para lentura.

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência… Exagero de escassez… Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.

Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada – e friamente sistematizada – de contradições.

Há quem diga que “dos filhos deste solo és mãe gentil.”, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.

A minha mãe não “tapa o sol com a peneira”. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro PACote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra… Sem nenhuma contradição!

É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.

Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social – terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)… Mas estão elas preparadas para isso?

Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro
pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com
a pobreza e desigualdade no Brasil.

Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos…

Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente… Ou como bicho?

Região Sudeste

1º de Julho de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

A região sudeste contém 4 estados. Rio de Janeiro tem vários patrimônios do Brasil, a maioria da época colonial, quando D. João aqui morou, como a sede do Banco do Brasil, o Teatro Municipal, Academia Brasileira de Letras e a Praça Tiradentes. São Paulo é o estado mais urbanizado, com o maior número de indústrias e vem da época cafeeira. Espírito Santo tem o porto de Tubarão e a capital é Vitória. Minas Gerais vem da época do ouro, quando virou um polo econômico do Brasil, aconteceram várias revoluções nessa região. Com a mineração, várias igrejas, monumentos, pelourinhos, chafarizes e estradas de ferro foram construídos. O Aleijadinho foi o maior escultor do Brasil, tendo esculpido os 12 profetas em Congonhas.

Na Região Sudentes está 80% da riqueza do país e quase metade da população, ocupando 11% do território. A floresta nativa foi praticamente toda desmatada no litoral. As bandeiras no final do século XVII fizeram a população crescer 11 vezes. A maior arquitetura barroca do Brasil está em Minas Gerais. Com a crise do café em 1930, começou a industrialização do Brasil. Em São Paulo criou-se a agroindústria, foram para lá milhões de nordestinos, no Rio de Janeiro foi descoberto Petróleo na Bacia de Campos, em Minas Gerais, no quadrilátero ferrífero encontra-se uma das maiores jazidas de ferro do mundo.

Região Norte

1º de Julho de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

A Região Norte ocupa 45% do território nacional, tem fronteira com 7 países, é pouco povoada (6% da população), também é conhecida como amazônia e o Equador determina o clima da região. Tem 3 fusos horários. A floresta equatorial cobre 90% da região. Chove muito, a seca é por pouco tempo, é abafado e a temperatura é acima de 20º. Mais de 7.000 afluentes têm o rio amazônico, formando a maior bacia aquática do mundo. Tem 140 km na foz e mais espécies que todo o oceano. A Ilha do Bananal é a maior ilha fluvial do mundo. O kaleinbió é típico da Ilha de Marajó, onde viveu há muito tempo uma sociedade pré-colombiana que fez os famosos vasos marajoaros. No Planalto das Guianas está o Pico da Neblina. Os principais minérios da região são urânio, cassiterita, manganês, estanho, ouro, diamante e esmeraldas. O Círio de Nazaré, a maior celebração religiosa do ocidente, ocorre nesta região. As duas espécies típicas do amazonas são a seringueira, nas terras alagadas nas cheias e a castanheira, nas terras altas.

Região Centro Oeste

1º de Julho de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Maior criação de gado do Brasil, além do maior santuário ecológico do hemisfério sul, que tem como porta de acesso Campo Grande. Cuiabá possui quedas d’água e um porto flutuante. Goiânia, a cidade onde a primavera é constante, é uma cidade planejada, que cresce em círculos. Existem várias tribos indígenas nesta região.

O centro oeste foi deslumbrado pelos bandeirantes que procuravam diamantes, esmeraldas e ouro. O local foi chamado Mato Grosso por causa da mata fechada. Cuiabá foi uma das vilas criadas nessa época. Foi aí que começaram a criar o gado. Um único produtor tem a maior plantação contínua de soja do mundo, 600 mil sacas ou 15 mil hectares. O terreno plano, irrigações artificiais e a correção do PH ácido do solo com calcário retirado da própria região dá a oportunidade de plantar arroz e soja.

O Pantanal tem 40 mil km2. Na chapada dos Guimarães nasce 10% das águas da bacia amazônica e 90% da bacida do prata. Está nesta região também a maior estação térmica do mundo. Brasília foi construída em 41 sdemanas, por 40.000 operários, durante o governo JK, 5x maior que a Bélgica, é constituída de 155 rios. O Tuiuú, ave símbolo do Pantanal, chega a medir 1,5 metros. Está nessa região a maior planície alagável do mundo, reserva biológica do mundo, protegida por lei. No Pantanal, o gado vive solto, nas pastagens naturais. No Maciço de Urucum se encontra a maior jazida de manganês do mundo.

O sumiço do dinheiro

1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Deus pode ser brasileiro, mas a corrupção não é, ocorre em vários países, tem a mesma causa e possivelmente a mesma solução.

Na idade média o dinheiro era em moedas de ouro. Todos sabiam quanto tinham, bastava contar as moedas. Se fossem roubadas saberiam exatamente quantas moedas foram perdidas. Naquela época era mais difícil ter o dinheiro roubado sem ter conhecimento do fato.

Atualmente não se usa mais moedas de ouro, o dinheiro é baseado em contas bancárias, cheques, cartões de créditos. Imagina-se que o dinheiro está seguro no banco, só vai sair de lá se for emitido um cheque, devidamente assinado, ou se provido de cartão de crédito e da senha, fizer uma movimentação qualquer. Perdeu-se o controle que se tinha antigamente sobre o dinheiro, toda confiança é dada ao banco.

Hoje ninguém tem como conferir o saco de moedas, para ver se está faltando alguma, é necessário uma análise demorada sobre o extrato, conferindo cada centavo que entrou com cada que saiu, para se ter certeza de que nada foi perdido. Se durante uma exaustiva análise do extrato for encontrado um erro, dinheiro faltando ou a mais, ninguém analisará o  extrato novamente e possivelmente colocará a culpa em um cheque que não se lembra de ter dado. Esse fato é muito comum de ocorrer com pessoas normais, que têm uma conta bancária de valores modestos, imagine então quando a movimentação envolve cifras de milhões, por exemplo. Detectar o sumiço de dinheiro numa quantidade dessas é praticamente impraticável, achar para onde foi o dinheiro, é impossível.

O socialismo não deu certo, o mundo é capitalista, o homem está extremamente ligado ao dinheiro. Ter dinheiro significa, além de status social, a possibilidade de fazer o que quiser. Baseado nisso, o homem tenta conseguir dinheiro de qualquer maneira, até de formas ilícitas, entre elas o desvio de dinheiro.

O que chamamos de corrupção no Brasil, o desvio de dinheiro, ocorre no mundo inteiro. No Brasil esse desvio não ocorre de forma discreta, além de desviarem cifras algumas vezes maiores que metade do valor total.

Enquanto não for mudada a forma de movimentação monetária, a corrupção não acabará. O dinheiro eletrônico parece ser a solução definitiva para este problema.

Pena de Vida

24 de Março de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Quando nascemos, nossa única certeza é a morte.

Provérbio popular

Durante um assalto num trem do metrô de São Paulo, dois rapazes foram baleados e morreram alí mesmo. No Rio, um aeroporto internacional foi assaltado, três turistas ficaram feridos. Durante a madrugada, 5 menores bateram com o terceiro carro que haviam roubado naquela noite, contra uma viatura da polícia, durante a troca de tiros, um menor morreu e dois ficaram feridos. O vice-presidente do Paraguai e seu motorista foram metralhados por fuzis e metralhadoras, dentro do próprio carro, o segurança saiu ferido. Um helicóptero da Cemig caiu em Minas Gerais depois de chocar-se contra um fio de alta tensão. Seus três tripulantes morreram, não se sabe se eletrocutados ou em virtude da queda. Estas foram as principais manchetes dos jornais “O Estado de Minas” e “O Globo” do dia vinte e três de março de noventa e nove.

O ser humano só tem uma vida, se morrer, acabou-se! Para que viver se arriscando pelas esquinas da vida, encarando a morte como a melhor vizinha, se a morte é a última instância? A vida deve ser preservada, desfrutada, aproveitada, para que as gerações futuras tenham histórias para contar e não apenas violência.

O desemprego é diretamente proporcional à violência. Num país com índices de desemprego de aproximadamente vinte por cento, a violência é máxima. Em suma, morremos de graça! Morremos num assalto a banco, por bala perdida, por acidente de carro, moto avião, helicóptero, navio, em guerras, atentados terroristas, acidentes de trabalho e até mesmo no aeroporto ou na janela de casa.

Nossa vida é preciosa, já morremos “de graça”, querer implantar a pena de morte é não dar valor à vida. A pena de morte já existe e o pior, não sabemos se estamos ou não condenados, já que o simples fato de voltar para casa pelo metrô, depois de um cansativo dia de trabalho, pode ser a sentença final.

A importância da imagem na sociedade

1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Nos dias atuais a imagem está tão ligada à vida das pessoas que é impossível imaginarmo-nos sem ela. O que seria uma revista sem fotos, uma telejornal sem as reportagens? A imagem está sendo supervalorizada.

As fotos são os diferenciais em jornais e revistas, primeiro olhamos a foto, se for interessante, lemos a matéria. É possível fazer uma endoscopia ou uma operação médica arriscadíssima analisando e confiando em minuciosas imagens produzidas por uma microcâmera. Na Internet um site só com texto não chama atenção, mas um site cheio de fotos, cores, animações, torna-se muito atraente. Nossa memória nada mais é do que um álbum de fotografias. Muitas fases de nossa vida nós só lembramos após ver fotos dessa época, lembramo-nos de várias situações que ocorreram no passado pelo simples fato de olhar uma foto. A televisão provavelmente é o maior meio de informação e entretenimento da atualidade e é baseada na imagem.

A imagem é algo que fica marcado na memória, por causa disso, é o melhor meio de manipulação popular. Um programa de televisão, por exemplo, pode mudar a rotina, o ponto de vista e o modo de pensar de toda uma família. Atualmente julgamos uma pessoa ou objeto por sua imagem: uma pessoa bem vestida é uma pessoa decente, trabalhadora, educada, já uma pessoa mal vestida é um maltrapilho, de classe inferior. Valorizamos muito mais um carro polido, limpo, brilhante do que um sujo, arranhado, mas sem analisar o seu interior, o motor.

Atuamente a imagem está supercultivada, a medicina moderna não pode existir sem ela. Os estudos, informações e entretenimentos são muito melhores e mais agradáveis se providos de imagens. As fotos e filmes nos trazem lembranças agradáveis, mas mesmo assim, a imagem nunca substituirá o homem, pois o homem tem algo que nem a mais bela das imagens pode criar: o sentimento.

Comentário da professora:

Somente parte do tema está na Introdução!

Memória inútil?

31 de Março de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

A memória reflete o passado, sem passado não há presente, o presente determina o futuro, logo, uma boa memória resulta num bom futuro. No entanto, de que adianta ter uma memória fantástica e não saber ordenar as idéias, criar um raciocínio lógico ou uma dedução plausível?

O que difere o homem das máquinas é a capacidade de raciocinar, de pensar, de criar as próprias leis. As máquinas têm memória, uma memória muitas vezes infinitamente melhor do que a nossa, como é o caso dos computadores, mas sem o homem nenhuma máquina tem utilidade! Isso mostra que a memória não é o mais importante no ser humano e, sim, a capacidade de pensar. Para que nos esforçarmos a ter uma memória infalível, se as máquinas fazem isso por nós, com uma chance de erro praticamente nula? Um método antiquado usaso nas escolas é decorar a matéria, jogá-la para a memória. Na verdade nada é aprendido, não existe raciocínio ou entendimento, é como a instrução de uma máquina, que só sabe fazer aquilo e não tem como reestruturar a instrução para executar outras tarefas.

Por outro lado, exercitando a memória estamos exercitando a mente, uma mente exercitada é uma mente aberta, saudável. Quem tem mente saudável tem corpo saudável, consequentemente muita saúde e grande longevidade. Exercitando a memória, ainda estamos melhorando a percepção. Numa era onde praticamente todos têm telefone, senhas de banco, Internet, uma memória razoavelmente boa é mais do que necessário. Está cientificamente provado que quem exercita a memória, vive mais e, quando idoso, têm memória melhor do que um adulto. Quem tiver boa memória para telefones, nomes, artigos de jornais ou revistas, tem muito mais conhecimento do que alguém que só se lembra do que leu ou ouviu nesta semana ou depende de uma agenda para arquivar encontros, nomes, endereços.

Quando adulto, nossa vida social está no ápice, precisamos guardar nomes de pessoas, lugares, datas de afazeres e encontros. Não é necessário ter uma memória fotográfica, mas uma memória exercitada e sadia, para, por exemplo, não cometer a gafe de dizer que Sidney é a capital da Austrália, em vez de Camberra, é o básico para a sociedade moderna.

Comentário da professora:

Henrique, considerando sua linha de raciocínio, seu texto se apresenta bem estruturado, com ótima seqüencia de idéias, mas você fugiu do tema proposto pelo autor no texto da Fuvest.

O Estado e o estudo

24 de Fevereiro de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Em um país socialista o Estado banca todas as fases da vida de um cidadão, já no capitalismo, se isso ocorresse, arruinaria com a concorrência e com as empresas privadas. Mesmo assim, o Estado tem de controlar algumas fases, como é o caso da educação e da saúde.

Se a postura do Estado é dar a educação necessária para que um cidadão exerça uma profissão, esse benefício não pode ser dado para quem o estado quer, mas para quem precisa e tem condições de recebê-lo. Assim sendo, tanto o pobre quanto o rico têm direito a uma vaga em uma universidade federal, disputada democraticamente. Ambos têm de receber o mesmo tratamento, já que um não é melhor do que outro e os dois pagam os mesmos impostos.

Atualmente o número de vagas em universidades públicas é bem menor do que o número de estudantes (ricos ou pobres) que querem ter uma profissão. Por causa disso, só quem está mais bem preparado, geralmente quem tem dinheiro para pagar um cursinho ou uma boa escola, entra na universidade pública. Os estudantes que têm menos recursos acabam não conseguindo entrar e como não têm renda suficiente para pagar uma particular, ficam sem estudar, mesmo tendo os mesmos direitos que os ricos.

Nas universidades particulares os pobres não entram por falta de recursos, mas os ricos entram. Então, para que um rico entra em uma universidade pública, tiradando a vaga de um pobre que não tem como entrar na universidade particular? Já que o Estado tem de oferecer estudo tanto para o rico quanto para o pobre, o rico não pode ser obrigado a estudar em uma universidade particular, mas se tivesse o bom senso de estudar lá, talvez hoje o Brasil não fosse tão subdesenvolvido.

Meio século de modificações

1999, 3º ano do 2º grau, 17 anos

“Brasil 500 anos”  é o que mais se ouve no momento. Quinhentos anos de que? Descoberta, apenas? Será que não podemos dizer: quinhentos anos de exploração? Em meio século, o Brasil e não só o Brasil, mudou muito, é necessário fazer uma análise do que aconteceu nestes quinhentos anos para entender o real significado de “Brasil 500 anos”.

Tudo relativo à história pode algum dia mudar, se um novo documento for descoberto e contradizer com a versão oficial, é necessário reavaliar os fatos e, na maioria das vezes, modificar o que se considerava certo. É o caso da data de descobrimento do Brasil ou como era a aparência de Tiradentes.

Trinta anos depois de descoberto, o Brasil começou a ser explorado, os portugueses retiravam o pau-brasil e o vendiam, principalmente à manufaturas inglesas. Estimativas apontam que mais de 70 milhões de árvores foram derrubadas. Foi um verdadeiro atentado ao equilíbrio natural do ecossistema brasileiro. Não só o pau-brasil foi dizimado, mas também os índios. Existem hoje seis vezes menos índios do que existiram no ano da descoberta.

Em 1881, mais de trezentos anos após o início da exploração, o Brasil era considerado um país pobre, nas mãos de estrangeiros. Poucos anos mais tarde alguns diziam que o Brasil era um país pacífico, sem violência nem corrupção, ainda assim pobre, resultado da exploração.

Socialmente falando, não somos um povo original, mas sim uma grade miscigenação de várias culturas diferentes: negros, portugueses, indígenas, europeus, que se encontram unidos, convivendo em perfeita harmonia, o que nos torna um povo calmo, educado, trabalhador.

Atualmente os negros não são escravos, os índios não são dizimados, continuamos a ser o mesmo povo calmo e trabalhador de outrora, mas adaptado à vida moderna. Continuamos a ser um país pobre, mas não tanto como duzentos anos atrás, produzindo e exportando vários produtos. Nossa legislação é, atualmente, mais democrática do que na época do descobrimento. É verdade que os índices de crimes, violência e corrupção aumentaram, mas no mundo todo.

Nestes quinhentos anos, o Brasil se modificou e para melhor, ele evoluiu!

Comentário da professora:

Atenção para a sua letra!

Imagem do descobrimento

25 de Agosto de 1999, 3º ano do 2º grau, 17 anos

Assim que acordei me encontrei em cima de uma árvore. Ao longe escutava o singular barulho do mar. Desci da árvore, estava de óculos, tênis e roupas, começava a desconfiar que havia bebido muito na noite anterior. Caminhei na direção do mar, quando vi em uma praia de areias brancas vários índios e da água translúcida vinha um grande bote de madeira, com vários homens vestidos de maneira espalhafatosa.

Os índios, em maior número, estavam temerosos, assustados e armados com flechas e lanças. Os visitantes faziam gestos leves, delicados, calmos, também temerosos da reação dos índios. Começaram a falar com os índios em diversas línguas, até que falaram um português semelhante ao do Machado de Assis. Foi nesse momento que me atinei de que estava em 23 de Abril de 1500, podia até mesmo ver duas caravelas ao longe. Era impossível determinar quem tinha mais medo, os portugueses ou os índios. Os primeiros estavam armados com carabinas antigas e portavam vários objetos sem valor, como espelhos, para criar confiança e depois fazer escambo com os índios. Um português anotava tudo, deveria ser Pedro Vaz de Caminha. Os portugueses já se mostravam mais confiantes e relaxados, enquanto os índios manuseavam encabulados as trinquilharias dos portugueses.

Venci meu medo e saí do meio do mato em direção aos portugueses, estes apontaram as armas para mim, levantei minhas mãos e disse que era da paz, iria ajudá-los a conversar com os índios. Os índios estavam confusos e perceberam que eu podia me comunicar com os portugueses, mas se mantinham em silêncio, apenas adotando precaução dobrada. Contei para os portuguesese minha história, onde estávamos, o que aconteceria com os índios da américa espanhola, falei sobre a cultura dos índios, sua importrância e seu futuro nada promissor, para que os portugueses não fizessem o que fizeram os espanhóis.

Depois de conversar durante toda a tarde e parte da noite sobre assuntos diversos, evitando falar do futuro, acabei conquistando a confiança dos portugueses e dos índios, fui dormir na caravela dos portugueses, na esperança de não acordar e descobrir que tudo não se passou de um sonho.

Comentário da professora:

Este recurso narrativo de “sonho” já está bem gasto! Além do mais, você não fez o ponto de vista pedido!

Ser umano é…

31 de Agosto de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Errar é humano, diz o ditado popular. Baseados nele, as pessoas cometem erros, fraudes, pecados, infringem leis, tudo naturalmente.

A sociedade brasileira, principalmente, se baseia nesse preceito para cometer todo dipo de ilegalidade e sair imune. Juízes, políticos, policiais, parecem já ter esse conceito no sangue, subvertendo a ordem às custas de pequenas propinas aqui, favorzinhos alí…

Na verdade, o ditado não está de todo errado, o ser humano realmente erra, apenas Deus é perfeito. Como diz outro ditado, existem três tipos de pessoas, o idiota que não aprende com os próprios erros, o esperto que aprende com os próprios erros e o sábio que aprende com os erros dos outros, ou seja, temos o dom de aprender com os erros, assim evoluímos.

Se o ser humano erra por natureza, que mal há em juízes, magnatas, marajás, entre outros “ilustres” personalidades cometerem tantas infrações? A essência deste questionamento está no grafite de um muro de uma cidade qualquer: “herrar é umano”, em suma, o ser humano, sabendo que erra por natureza, comete certas atitudes consideradas politicamente incorretas, não contra a vontade, mas a favor dela, de propósito!

Abusamos da ignorância e do ortodoxismo da sociedade em vigor para continuarmos infringindo leis, regras, contratos “a lá vontè”, amparados por uma convenção que julga que para ser humano, é necessário errar.

Carta – Redação do Vestibular Unicamp 1995

8 de Julho de 1999, 3º ano do 2º grau, 17 anos

Redação sobre o tema da prova de vestibular da Unicamp de 1995:

Na luta contra a Aids defrontam-se os rigorosos, que exigem respeito aos princípios preventivos básicos e corretos, contra os complacentes. Aqueles exaltam o valor do relacionamento sexual responsável, o combate efetivo à toxicomania e a adequada seleção de doadores de sangue. Os outros preconizam coisas mais agradáveis, como por exemplo o emprego desbragado e a doação gratuita de camisinha, a distribuição de seringas com agulhas a drogados e a perigosa, além de problemática, lavagem delas com água sanitária. Agora, os permissivos, que não estão obtendo qualquer vitória, pois a doença afigura-se cada vez mais difundida, ganharam novo aliado: o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), que concordou com o fornecimento de seringas e agulhas, sem ônus, aos viciados. Portanto, esse órgão público associou ilegalidade à complacência.
(VICENTE AMATO NETO, médico infectologista, Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 18/09/94)

A carta acima fez referência a uma proposta polêmica do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes): o fornecimento gratuito de seringas e agulhas a viciados em drogas injetáveis.
a) Caso você concorde com a proposta da CONFEN, escreva uma carta ao Dr. Vicente Amato Neto, procurando convencê-lo de que ela pode de fato contribuir para evitar a disseminação do vírus da Aids.
b) Caso você discorde dessa proposta, escreva uma carta ao presidente da CONFEN, procurando convencê-lo de que ela não deve ser posta em prática.
Ao desenvolver sua redação, além de expor suas opiniões, você deverá necessariamente levar em consideração a coletânea a seguir.

1. Graças a uma legislação liberal, a maior cidade Suíça (Zurique) criou uma área especial – Letten, uma estação de trens desativada – onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (…) Desde 1992, quando os junkies* se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não pára de crescer – um fato atestado pelas 15.000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem é que a distribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids.
[*junkies: termo inglês que significa drogados.]
(O pico à luz do dia, VEJA, 07/09/94)

2. Em nosso país, exige-se o diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pessoas não treinadas criam perigosas situações para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e seringas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalidade se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado.
A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precários. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma “roda”, provavelmente dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada (sociológica etc). Não é difícil adivinhar que se trata de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer conseqüência para a epidemia da Aids.
[*roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas.]
(adaptação de VICENTE AMATO NETO & JACYR PASTERNAK, ‘A doação de seringas e agulhas a drogados’, O ESTADO DE S. PAULO, 05/09/94)

3. A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metade a taxa de propagação do vírus da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade John Hopkins, de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos.(…)
Antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes.
Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da Aids.
(Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, “Folha de S. Paulo”, 02/11/94)

4. [No futuro, pagaremos] caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado. Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto, a menina ingênua, o senhor enrustido, a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução de higiene. Haverá milhões de pessoas com Aids, dependendo de tratamentos caros e assistência permanente. (…)
(DRAUZIO VARELLA, ‘A era dos genes’, “Veja 25 anos” – Reflexões para o futuro, 1993)

São João del-Rei, 8 de Julho de 1999

Prezado senhor,

Lendo o jornal “Folha de S. Paulo” do dia 18 de setembro de 1994, deparei-me com um artigo do Dr. Vicente Amato Neto que falava sobre o Conselho Federal de Entorpecentes (Cofen). Sou totalmente contra a distribuição de seringas e agulhas descartáveis aos drogados, já que um erro não justifica outro. A AIDS é, realmente, um problema grave, que infectará milhões de pessoas no futuro, mas a droga é muito pior, pois causa uma certa demência no usuário. Em alguns países como Suiça ou Estados Unidos, um projeto semelhante foi aplicado, o número de casos de AIDS diminuiu, mas o número de drogados subiu consideravelmente. Com o projeto, o senhor estará violando uma lei brasileira, que diz que para aplicar injeção intravenosa, é necessário ter diploma, pois por um descuido ou falta de informação, uma injeção mal aplicada pode causar sequelas ou até mesmo a morte.

Antes de colocar este projeto em prática, o senhor deveria participar de uma roda de drogados, não como usuário, mas como um simples curioso, e olhe o que realmente acontece. Na primeira dose, até que vai, o drogado pegará um seringa descartável e a usará, mas depois da segunda dose, ele já estará tão doido que nem pensará em ver se a droga está diluída ou não, se a seringa está limpa, cheia ou vazia. Num momento destes, o drogado pensará apenas em pegar a primeira seringa que ver na sua frente.

A AIDS mata aos poucos, a droga mata com um sofrimento muito maior, até mesmo para os amigos e familiares. Com este projeto, o senhor estará apenas incentivando o uso da droga, que os governantes lutam tanto para inibir seu consumo.

Atenciosamente,

Henrique Cintra

Duas visões de um mesmo mundo

9 de Junho de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Redação segundo o tema do vestibular da Fuvest de 1991:

Há um conto de H. G. Wells, chamado “A terra dos cegos”, que narra o esforço de um homem com visão normal para persuadir uma população cega de que ele possui um sentido do qual ela é destituída; fracassa, e afinal a população decide arrancar-lhe os olhos para curá-lo de sua ilusão.

Redação

Discuta a idéia central do conto de Wells, comparando-a com a do ditado popular “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. Em sua opinião essas idéias são antagônicas ou você vê um modo de conciliá-las?

A temática do conto de Wells apenas reforça o ditado popular que diz: “Só acredito se ver com meus próprios olhos.”. A população cega não consegue ver no homem que ele não é destituído de visão, eles não acreditam que possa existir alguém diferente deles, alguém que possa ver. Para acabar com a loucura deste homem, arrancam-lhe os olhos.

No ditado popular “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, o homem dotado de uma qualidade que o resto da população não tem é superior em relação aos outros. O homem com visão é tão superior que passa a exercer influência ou, até mesmo, controle sobre as pessoas tidas como normais, destitiuídas de visão.

Aparentemente, as duas temáticas são completamente contrárias, no conto de Wells, o homem dotado de uma qualidade a mais é castigado, enquanto que no ditado popular, este homem recebe privilégios, é beneficiado. As idéias principais são antagônicas, mas existem alguns pontos em que as idéias são semelhantes.

Em ambos os casos, tanto no conto quanto no ditado, o fato ocorre em um local onde só existem cegos, que são considerados normais, aparece um homem que tem uma qualidade a mais, a visão. O dois homens têm uma qualidade que os tornam superiores aos outros, mas as semelhanças acabam por aí. No conto, este homem tenta convencer os outros de que pode ver, enquanto que no ditado popular o homem aproveita sua visão para se beneficiar.

Tanto o ditado popular quanto o conto, partiram do mesmo princípio básico, um homem dotado de visão em terra de cegos, mas durante a exposião dos fatos, percebe-se que a idéia defendita pelos dois textos são antagônicas.

Comentário da professora:

Você apenas explicou os dois textos, mas não analisou o tema deles!