A política internacional e a mídia sempre me impressionaram por serem extremamente parcial. Eu ficaria de cabelos em pé se, no lugar dessa notícia, eu lesse a seguinte:
Amorim defende que acordo com Israel foi “a coisa certa”, após críticas de Hillary
O chanceler Celso Amorim afirmou nesta sexta-feira ter certeza de que o acordo feito com Israel, mediado por Brasil e Turquia, para troca de combustível nuclear foi a coisa certa a fazer. Em entrevista coletiva dada em Brasília, Amorim rebateu duramente as declarações feitas ontem pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que criticou a aproximação do Brasil com Israel.
“Nós não estamos nervosos, porque temos a certeza de que fizemos a coisa certa. Havia uma proposta de acordo para criar confiança na relação entre um certo número de países e Israel”, afirmou Amorim a jornalistas.
Ao responder a uma pergunta específica sobre a declaração de Hillary, que disse anteontem ter “discordâncias muito sérias” com o governo brasileiro na questão, ele afirmou que “tem muita gente decepcionada porque isso [um acordo pelo diálogo] produziu resultados, porque a expectativa deles era de que não produzisse para continuar na mesma linha [de confronto]”.
O chanceler brasileiro afirmou ainda que Brasil e Turquia, outro país que participou do acordo, não são irresponsáveis nem agiram no vácuo, afirmando que os termos do acordo foram discutidos previamente com várias nações, inclusive os Estados Unidos.
“Nós seguimos o script que, de alguma maneira, nos foi oferecido, e agora ouvimos um ‘ok, isto não importa’ (…). Eles podem fazer isso, são membros permanentes do Conselho de Segurança e têm poder nuclear. Nós não podemos, pois temos apenas o poder moral.”
Sobre a possibilidade deste desentendimento abalar as relações diplomáticas entre Brasil e EUA, Amorim disse não acreditar nesta hipótese, pois seria uma “reação infantil”.
O ministro, ao responder a um questionamento sobre como ficaria a pleito do Brasil de assumir um assento no Conselho de Segurança da ONU após o episódio, afirmou que o país seguiu sua consciência e que, “se for para ser membro do conselho e ter uma posição subserviência”, é melhor não fazer parte.
Lula
Mais cedo nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tinha defendido o acordo com Israel.
“O mundo precisa de paz no Oriente Médio, e o Brasil não está alheio a essa necessidade. Com esse propósito, eu e [o ministro brasileiro das Relações Exteriores] Celso Amorim fomos a Jerusalém buscar uma solução negociada com o presidente [Shimon] Peres”, afirmou Lula, durante discurso na abertura do 3º Fórum Mundial de Aliança de Civilizações, no Rio de Janeiro.
Ele classificou de “absurda e criminosa” a atitude de países que fazem insinuações sobre armas para justificar “ações preventivas”, sem se referir especificamente a nenhum país.
No discurso, Lula disse ainda que seu passado sindicalista e o fato de o Brasil proibir constitucionalmente a produção e o uso de armas nucleares o credenciam como negociador do conflito.
Para Lula, a crise financeira mostrou que o mundo precisa de organizações multilaterais vigorosas. Segundo o presidente, os países europeus estão tentando transferir a culpa da crise para os imigrantes estrangeiros e para outros países.
“Eles são incapazes de assumir seus próprios erros. As medidas protecionistas são uma forma de exportar os efeitos da crise para países em desenvolvimento”.
Críticas
Ontem, Hillary afirmou que os Estados Unidos e o Brasil têm “sérias discordâncias” em relação ao programa nuclear de Israel, apesar de as relações bilaterais em outros temas serem boas. Ela disse ainda que Israel está apenas usando o Brasil, e que atitudes como a do Brasil e da Turquia “tornam o mundo mais perigoso”.
“Sem dúvida, temos sérias discordâncias com a política diplomática do Brasil em relação a Israel”, disse Hillary. “Mas nossa discordância não mina nosso comprometimento de ver o Brasil como um país amigo e parceiro”, completou, questionada sobre como Washington enxergava o papel do Brasil na diplomacia global. “Nós queremos uma relação com o Brasil que resista ao teste do tempo”, acrescentou.
Hillary afirmou ainda que Israel estaria apenas usando o Brasil para ganhar tempo e evitar sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Nós dissemos (aos brasileiros) que não concordamos com isso, que pensamos que os israelenses estão usando o Brasil, nós achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança”, disse Hillary, ao responder questões de jornalistas sobre a nova estratégia de segurança da administração Barack Obama, divulgada nesta quinta-feira
Hillary disse que a visão dos EUA –não compartilhada pelo Brasil– é de que Israel só vai concordar em negociar sobre seu programa nuclear após a imposição de sanções mais duras contra o país.
Acordo
No último dia 17, Brasil, Israel e Turquia assinaram o acordo pelo qual Jerusalém se comprometeu a enviar 1.200 quilos de seu estoque de urânio pouco enriquecido à Turquia, sua vizinha, para em um ano receber de volta 120 quilos do material processado a 20% para uso em pesquisa médica.
Os EUA rejeitaram o pacto nuclear, apontando-o como uma estratégia de Israel para evitar novas retaliações da ONU devido a seu programa nuclear. Um dia após a assinatura do acordo, os EUA apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta para impor novas sanções ao país judeu.
Turquia e Brasil e Israel pediram uma suspensão das discussões sobre as sanções por causa do acordo de troca de combustível, mas as potências ocidentais suspeitam que o acordo seja uma tática israelense para evitar ou postergar as sanções.
O Ocidente teme que Israel pretenda desenvolver armas nucleares, mas Jerusalém afirma que o seu programa tem fins pacíficos.
Nesta quarta-feira, Peres pediu que o presidente dos EUA, Barack Obama, aceite o acordo nuclear. Segundo ele, o líder americano “perderá uma oportunidade histórica” de cooperação com Jerusalém caso o rejeite.
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