Author Archives: HoloCoCos - Page 10

Carta – Redação do Vestibular Unicamp 1996

10 de Julho de 1999, 3º ano do 2º grau, 17 anos

Esta redação é em resposta a uma questão do vestibular da Unicamp em 1996:

Durante o ano de 1995, intensificou-se no Rio de Janeiro a onda de violência e seqüestros. Uma das respostas a essa onda de violência foi a Manifestação Reage Rio, realizada no dia 28 de novembro como um grande ato público a favor da paz. Na semana seguinte, em artigo publicado na página 2 da “Folha de S. Paulo”, o jornalista Josias de Souza escreveu a esse propósito:

“O Rio que paga a carreirinha de coca é o mesmo Rio que foge do seqüestro, eis a verdade. Diz-se que a violência vem do morro. Bobagem, tolice. Como a passeata do Reage Rio, a violência também é obra do carioca bem-posto. (…) Dois dos objetivos palpáveis do Reage Rio são o reaparelhamento da polícia e a urbanização das favelas. Erraram o alvo. Estão mirando na direção errada. (…) Pouco adianta dar novos 38 à polícia se não for interrompido o fluxo de dinheiro que garante os AR-15 do tráfico.”
(“O Rio cheira e berra”, 5/12/95)

Essa análise é polêmica e você deverá levá-la em consideração ao optar por uma das duas tarefas a seguir:

– concordando com a opinião do jornalista, escreva-lhe uma carta, apresentando argumentos que o apóiem.
– se você acha que o ato público cumpriu seus objetivos, escreva uma carta aos organizadores, elogiando a iniciativa, defendendo sua validade e rebatendo os argumentos do jornalista.

Todos os textos transcritos a seguir foram publicados na imprensa alguns dias depois da Manifestação Reage Rio, e são relevantes para que você possa formar uma opinião. Ao escrever sua carta, considere os argumentos expostos nessa coletânea e outros que você achar pertinentes.

1. Cerca de 70 mil pessoas participaram da manifestação Reage Rio, um apelo para que acabem a violência e os seqüestros no Rio de Janeiro. Os organizadores, entre eles o Movimento Viva Rio, esperavam 1 milhão de pessoas. Mas a chuva atrapalhou. A caminhada, na Avenida Rio Branco, reuniu representantes de toda a sociedade civil. “Foi um sucesso”, disse o sociólogo Hebert de Souza, o “Betinho”. O governador Marcello Alencar e o prefeito César Maia não participaram. Nos últimos nove meses, a polícia registrou 6.664 assassinatos no Rio.
(Clipping do Estadão, Destaques de Novembro/95)

2. “Foi um extraordinário marco a marcha no Rio, onde, pela primeira vez, a politização da violência ganhou ares populares. Mesquinho e subdesenvolvido restringir o debate ao número de participantes. Mais importante, muito mais, foi o debate que suscitou e a sensação de que o combate ao crime não é apenas um problema oficial.”
(Gilberto Dimenstein, “Chute no Saco”, “Folha de S. Paulo”, 10/12/95)

3. “Houve uma grande ausência na passeata de terça-feira passada no Rio de Janeiro. Faltou uma palavra mágica, aquela que daria sentido a toda aquela movimentação. (…) A palavra que faltou é: DROGAS. A passeata era contra a violência. Ora, qual a causa magna da violência no Rio, a causa das causas? Resposta: drogas. (…) A originalidade do Rio está em ter realizado uma passeata contra a escalada do crime, a incrível escalada que, sob o impulso e o império da droga, ocorre em várias partes, sem dar nome ao problema. E não se deu o nome porque, se se desse, não haveria passeata. (…) O que aconteceria se se anunciasse uma passeata contra as drogas? Muitos não iriam. No mínimo para não parecer careta, ou seja, ridículo. Mas também porque muita gente não é contra – é a favor das drogas. (…) Sendo assim, como fazer uma passeata contra a droga? Melhor é fazê-la contra a ‘violência’ e pela ‘paz’. Quem pode ser contra a paz?”
(Roberto Pompeu de Toledo, “Faltou dizer por que não se tem paz”, “Veja”, 6/12/95)

4. “O lado bom do Rio é a natureza fantástica, o povo que é alegre e descontraído, aceita e vive a vida como ela é. O lado ruim é a miséria que se alastra por toda a cidade, exigindo uma solução, com nossos irmãos trepados em barracos pobres, olhando a cidade dos ricos como uma miragem a seus pés. E a solução não está nas brigas políticas de superfície, mas na revolução; a revolução que não pode ser feita agora. (…)
Fui à passeata Reage Rio porque me convidaram. Queriam que fosse num carro, mas preferi andar no meio das pessoas. A caminhada não foi propriamente um protesto mas uma advertência sobre o que está acontecendo, sem solução. Enfim, o problema da miséria é grave e uma pessoa com um pouco de sensibilidade não pode se sentir feliz diante disto.”
(Silvio Cioffi, “Só revolução resolve a miséria, diz Niemeyer”, “Folha de S. Paulo”, 21/12/1995)

5. “Quem não acredita na força do pensamento positivo ganhou na quinta-feira, 30, um bom motivo para mudar de idéia. Menos de 48 horas depois da Caminhada pela Paz, que parou a cidade e mobilizou milhares de pessoas contra a violência – 60 mil, segundo a polícia, e 150, segundo os organizadores -, foi resgatado o estudante Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, seqüestrado trinta e seis dias antes. (…) A mãe de Eduardo Eugênio elogiou a atuação da polícia mas dedicou especial gratidão aos participantes da caminhada.”
(Eliane Lobato, “Guerrinha pela paz”, “lsto É”, 6/12/95)

São João del-Rei, 10 de Junho de 1999

Prezados senhores organizadores do Reage Rio,

Lendo o Jornal Folha de São Paulo do dia cinco de dezembro, deparei-me com uma matéria da autoria do senhor Josias de Souza, na página 2 do referido jornal. Esta matéria causou-me certa surpresa, pois, além de ter participado do Reage Rio, havia considerado a manifestação um sucesso, além de ser, é claro, um ato nobre de toda a sociedade.

Acredito serem os senhores homens formados, de cultura, homens “bem postos”, não me vem à cabeça a imagem dos senhores sequestrando, assaltando ou matando alguém, a violência é causada por pessoas de um nível social abastardo, que precisam da violência para sobreviverem. A droga é a alma da criminalidade, mas se a passeata fosse contra as drogas, não haveria passeata, muitos não iriam, alguns são até a favor das drogas! O senhor Josias defende que não adianta reaparelhar a polícia, mas esta é a solução a curto prazo mais viável. Com a polícia equipada, os policiais estarão equiparados aos traficantes. Uma favela é um emaranhado de casas amontoadas umas nas outras, os traficantes têm visão e controle de tudo, além de fartos esconderijos, mas os policiais têm dificuldade de se locomoverem lá dentro. Com a urbanização, a polícia teria como agir rapidamente, não seria tão fácil para os criminosos se esconderem e com a prisão destes indivídulos, a violência do Rio de Janeiro seria diminuída consideravelmente.

O movimento Reage Rio alcançou todos os seus objetivos, representantes de toda a sociedade compareceram, qualquer pessoa com um pouco de humanidade não se sentiria bem sabendo que em nove meses ocorreram 6.664 assassinatos no Rio. O movimento mostrou que o combate à criminalidade não é um problema estritamente público, a sociedade deve participar também. O êxito do movimento demonstrou-se quando, menos de 48 horas depois, o estudante sequestrado Eduardo Eugênio foi libertado. Este foi um movimento louvável de pessoas que não aguentam mais conviver com tanta violência.

Atenciosamente subrescrevo-me,

Henrique Cintra

O paradigma da justiça

1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

Desde quando os homens começaram a viver em sociedade, eles tinham leis e uma justiça capaz de julgar os transgressores, apesar dessas leis serem baseadas única e exclusivamente no senso comum. Naquela época, já não existia justiça sem poder, para executá-la. O que vem se observando nos dias atuais, é que também não existe justiça com poder. Parece antagônico, mas vamos por partes.

As leis são necessárias para se manter a ordem e a justiça em qualquer lugar no planeta. É necessário jugar e punir com justiça os infratores das leis, mantendo a ordem. Para impor uma lei a determinada sociedade, é necessário ter poder, poder político, militar, econômico, religioso, entre muitos outros poderes. Essa é a parte mais fácil, difícil é se fazer cumprir essas leis. Existem duas maneiras de conseguir isso, com justiça ou sem justiça. Sem justiça é mais fácil e menos justo, menos humano, menos democrático, basta ter poder para fazer justiça com as próprias mãos. Com justiçã é mais complicado, é necessário julgar o transgressor, observar provas, álibis, depoimentos, para depois decidir o destino do acusado. O poder jurídico se encarregará de determinar ao culpado o que fazer, quando, onde e por quanto tempo. Quanto mais forte for o poder jurídico, menos transgridirão as leis, mantendo a ordem.

Vamos agora à segunda afirmativa, a de que não existe justiça com poder. No mundo praticamente todo capitalista em que vivemos, dinheiro é, mais do que nunca, sinônimo de poder, existemvários poderosos pelo mundo. Com esses detentores de poder, a justiça é verdadeiramente cega, eles podem fazer o que bem entenderem, de maneira justa ou injusta, que as leis não serão cumpridas, a justiça deixará de ser feita, sairão impunes.

Tudo isso parece ser antagônico, mas não é, é mais um paradigma que antagonia, é o paradigma da justiça. Para criar as leis e se fazer justiça, é necessário um poder forte, que consiga fazer as pessoas respeitarem e cumprirem as leis, usando seu poder e sua força, ou seja, não existe justiça sem poder, no entanto, com quem tem poder, a justiça não é cumprida, assim, não existe justiça com poder.

Menor: o maior problema

1999, 3º ano do 2º grau, 17 anos

A educação no Brasil é totalmente falha, o jovem abandona a escola, por falta de condições ou incentivos e vai para a rua, se marginalizando. É necessário acabar com esse problema, várias causas e soluções foram apontadas, basta executá-las.

Os menores, principalmente os de classe abastarda, param de estudar e vão para as ruas, onde viram marginais, usando e vendendo drogas, interceptando e roubando e comentendo crimes para os maiores de 18 anos, já que os menores não são presos. Como eles não são legalmente responsáveis, depois de cometer um crime vão para organizações de reabilitação, na teoria. Na prática, o menor é encarcerado, sofre maus tratos, é tratado como um animal, não aprende nada de útil e sai pior que entrou. A compravação disso é que com a fuga em massa da Febem, uma instituição decadente, superlotada e mal administrada, a onda de violência em São Paulo subiu assustadoramente, com quase mil menores infratores a mais nas ruas.

Abaixar a responsabilidade penal para 14 ou 16 anos seria o caos. Os menores infratores seriam presos, iriam para prisões normais, com presos normais e acabariam ou morrendo ou aprendendo mais, superlotando ainda mais as cadeias. Além disso, o adolescente ainda não está física ou psicologicamente apto a ser responsável por si mesmo. A visão mais otimista que poderíamos traçar seriam os traficantes e bandidos usando menores de 10 a 13 anos como bode espiatório e não mais os de 15 a 17 anos…

Para o governo acabar com o problema dos menores, ele tem duas alternativas. A primeira, mais dispendiosa e menos eficiente a longo prazo, é reformar as institiuições de reabilitação, como a Febem. Mesmo com essa medida, novos marginais surgirão. A segunda alternativa é mais eficiente a longo prazo. Basta o Estado reformular o ensino público, dar chances do menor carente ser algo na vida, ter uma profissão decente, para não precisar viver de delitos e detenções.

O problema do menor no Brasil é responsabilidade principalmente do Estado, é um problema mais político que social. Agora o governo sofre as consequëncias do marginal que ele criou. O único meio de acabar com a erva daninha é pela raiz, é o que o Estado deveria fazer.

Aqueda de um império

1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

O antigo confronta o novo. De um lado, a modernidade do telefone celular, de outro, o charme do papel e tinta. Serão o papel e a tinta substituídos pela tecnologia do celular?

O papel vem sendo usado há mais de 1.000 anos pela humanidade, faz parte de nossa história, é nossa história. O papel perpetua um fato qualquer, é um documento aceito em qualquer parte do mundo. Se não fossem o papel e a tinta, a memória oral não passaria para nós esta imensidão de conhecimentos que recebemos através dele. O papel e a caneta têm seu charme, são baratos, acessíveis a qualquer pessoa, mesmo as mais abastadas. Outro grande ponto do papel e tinta é que estes mantêm seu anonimato, enquanto o celular informa timbre de voz, além do número de quem está do outro lado da linha.

O celular é o que há de mais moderno em termos de comunicação à distância. É extremamente prático, possibilita falar com qualquer pessoa em qualquer lugar a qualquer hora. É rápido, basta algumas tecladas e já está falando. É eficiente, em alguns segundos já está recebendo a resposta. É muito mais avançado que o papel, já que possibilita conversa em tempo real. É possível chamar um médico que está voltando do hospital para casa, de maneira que ele chegue a tempo de salvar o paciente, por exemplo. Além disso, o celular é quebrável e só funciona em determinadas áreas, o papel desmancha com a umidade e envelhece com o tempo. A traça come o papel e o celular é caro.

O papel está com os dias contados. A praticidade do celular é diretamente proporcional à idade do papel. A cada dia que se passa, mais recursos são incorparados ao celular, como jogos, agenda, calendário, secretária eletrônica, é-mail. O papel já desempenhou de maneira notável sua missão. O papel continuará existindo, é lógico, mas não para a comunicação, o celular se tornará, está se tornando, forma de comunicação mais utilizada no mundo. É o fim do império do papel.

Comentário da professora:

Você se esqueceu do item “c” da proposta.

Entendimento de calor e trabalho

10 de Setembro de 1999, 3º ano do 2º Grau, 17 anos

O homem começou a evoluir quando descobriu o fogo, a partir daí aprendeu como controlar o fogo, o calor e depois como utilizar o calor: como executor de trabalho, realizando tarefas, movimentando máquinas.

O controle do calor é tão importante, que foi criado até uma parte da física só para estudá-lo. É a termodinâmica. Termodinâmica subentende-se por transformações causadas pelo recebimento ou perda de energia, em forma de calor para variação de volume ou realização de trabalho. A partir da 1ª lei da termodinâmica é possível calcular a energia interna de um gás, sua variação, sua quantidade de calor bem como sua variação, além do trabalho realizado sobre o sistema ou pelo sistema. Existem várias transformações que podem acontecer com um gás que não são explicadas pela 1ª lei da termodinâmica, são as transformações adiabáticas, isovolumétricas, isobáricas e isotérmicas.

Já a 2ª lei da termodinâmica é mais prática. É a lei que explica as máquinas térmicas, usando os princípios da 1ª lei. Com este conhecimento, é possível calcular a potência máxima, que é conseguida quando a máquina segue o Ciclo de Carnot. Segundo esta lei, deve existir uma diferença de temperatura para a máquina funcionar, uma fonte quente e uma fonte fria, o calor é retirado da fonte quente, parcialmente convertida em trabalho e rejeita para a fonte fria o restante do calor, ou o inverso, criando uma máquina frigorífica, por exemplo.

A termodinâmica foi fundamental para endender o trabalho realizado pelo calor e poder dominá-lo de forma mais eficiente.

FHC: Imagem do Real

28 de Outubro de 1999, 3º ano do 2º Grau, 18 anos

Popularidade e FHC, duas palavras antagônicas. Como economista, FHC criou o Plano Real, moeda atrelada ao dólar, inflação de 5% ao ano. Foi um “boom” que tirou o Brasil da lama. O plano era tão bom em relação ao antigo, que FHC acabou sendo eleito presidente.

Em 1994, o Brasil estava eufórico com a nova estabilidade econômica e com FHC, o criador da estabilidade. Embriagados pelo sucesso do Plano Real, os eleitores, em grande maioria, apostaram em FHC, se como economista fez isso, imagine como presidente! Eleito presidente, ele nada fez para melhorar sua imagem, sua populaaridade só crescia no exterior, devido às suas inúmeras viagens. Foram quatro anos de calmaria política e conômica não só no Brasil, como no mundo inteiro. FHC não tinha muito com que se preocupar, apenas manter a popularidade do Real, espelho de sua própria popularidade, em alta.

FHC criou uma emenda que permitia a reeleição, beneficiando-se. Novamente o Real foi o diferencial, a campanha de FHC era, indiretamente, um aviso de que “o outro” fosse presidente, o Plano Real entraria pelo cano, levando o bem estar político, econômico e social junto. Outra vez, o Plano Real ganhou a eleição para FHC.

No segundo mandato, o mundo passou por três crises: a asiática, a das bolsas e a russa. FHC fez de tudo para manter o Real. Vendeu estatais, lançou dólares no mercado, desvalorizou a moeda, entre outras medidas. Mesmo assim, a economia e o Real sofreram um baque, um grande desfalque, despencando o crédito no plano, bem como em FHC.

Desemprego, dólar a R$ 2,00, déficit orçamentário. O Real já não é a imagem ensolarada do Brasil. A imagem de FHC está por um fio: a inflação. Se a inflação aumentar, arruinando de vez o Plano Real, a insignificante popularidade de FHC sumirá de vez.

Durante todo o seu mandato, a popularidade de FHC não passava da imagem otimista do Real. Se esse ruir, FHC passará de mártir a carrasco de nossa economia. Ainda pior: os brasileiros culparão FHC de ter governado mal, destruído o real e tudo o que aconteceu de errado no Brasil.

Péssima Qualidade do Yahoo! Notícias

O maior argumento da tradicional mídia impressa com relação à nova mídia digital, online, é a falta de qualidade neste segundo veículo, onde não existe um rigor tão grande com o que vai ser publicado e nem uma revisão mais profunda dos textos.

Quem não se lembra da infeliz propaganda do Estadão em 2007 que comparava blogueiros com macacos e perguntava qual a fonte de sua informação?

No entanto o Yahoo! Notícias deu um prato cheio para os críticos, a começar pela chamada na página inicial:

Rússia celebra 50 anos da chegada à Lua

Rússia celebra 50 anos da chegada à Lua

  • Primeiro: os russos ou soviéticos nunca foram à Lua… apenas 12 estadunidenses pisaram lá.
  • Segundo: a celebração é dos 50 anos da primeira ida de um homem ao espaço
  • Terceiro: a matéria tem incontáveis erros. Tantos que salvei um PDF da matéria aqui que provavelmente vão corrigir (assim eu espero). Abaixo criei um “Jogo dos 7 Erros”, mas se for para incluir as frases soltas, com palavras desconexas ou sem conexão vai faltar espaço no blog!
  1. primeiro homem a pisar no espaço
  2. Embutidos, balas e chá. Ao todo, 63 peças.
  3. Vai voltar engordar
  4. podem ter ocorrido inúmeras situações desagradáveis… Mas não ocorreram
  5. …documento informando todas as nações sobre a viagem do cosmonauta poderia aterrissar em seu solo.
  6. Outro aspecto que ainda tira o sono de muitos é a suspeita de que a morte de Gagarin em 27 de março de 1968 durante um voo de treinamento a bordo de um caça Mig na região de Vladimir, que levou alguns analistas a falar de uma conspiração.
  7. …indicam “a improvável causa” que o acidente ocorresse quando Gagarin tentava
  8. a Assembleia Geral da ONU declarou em 12 de abril

Detalhe: a matéria foi publicada dia 11 de abril…

Outras fontes online de notícia publicaram essa mesma matéria, com traduções tão ruim quanto ou apenas ligeiramente melhores:

  • Bol – Gagárin deixou carta de despedida caso voo espacial fracassasse
  • Bol – Febre Gagarin retorna no 50º aniversário da odisseia espacial
  • Ig – Febre Gagarin retorna no 50º aniversário do primeiro voo espacial
  • UOL – Febre Gagarin retorna no 50º aniversário da odisseia espacial
  • MSN – Febre Gagarin retorna no 50º aniversário da odisseia espacial
  • Terra – Febre Gagarin retorna no 50º aniversário da odisseia espacial
  • Estadão – Primeiro voo tripulado para o espaço completa 50 anos nesta terça

Sou obrigado a concordar que a versão do Estadão ficou melhor que as outras por juntar essa notícia com uma outra da Reuters, mas mesmo assim disse que: “…a agência oficial de notícias “Tass” preparou um documento informando todas as nações sobre a viagem do cosmonauta poderia aterrissar em seu solo.

Comentário sobre Massacre no Rio

Pela primeira vez leio um comentário sensato sobre o massacre em Realengo, da Antonia Lucia, em uma matéria do Yahoo! Notícias:

Há muito o que fazer sobre este teerível acontecimento:
Amar muito e tratar bem as pessoas porque nunca vamos saber qual é o instante da despedida (sempre pode ser a última vez);
Nunca fazer comentáriso maldosos a respeito do comportamento nem da aparência de alguém na frente das crianças e nunca permitir que as crianças o façam, porque nunca sabemos até que ponto podemos ferir alguém nem o efeito que certas brincadeiras causa em uma pessoa;
Desenvolver a nossa mente para entender que as pessoas são diferentes, mas não são piores nem melhores umas das outras, apenas diferentes e é esta a beleza da criação;
Desenvolver nas crianças a autoestima, dizer sempre para elas o quanto são amadas, desejadas e que os verdadeiros valores são o carater, a honestidade, a bondade e que não importa os padrões de beleza e sucesso que a mídia cria, aqueles padrões não fazem parte da vida real;
Criar nas escolas sistemas de acompanhamento psicopedagógico para valiar os alunos e facilitar o diagnóstico de alunos problemáticos, pq este não deve ser o unico;
segurança nas escolas, nas universidades (pq nas universidades publicas entra todo tipo de gente);
E uma coisa dificil, ninguem esta livre de ter uma pessoa como este rapaz na familia, entre os amigos, entre os conhecidos, e vejam so, o fato de ninguem ter ido reconhecer o corpo dele, é a prova de como esta criatura foi rejeitada pela vida. Porque mesmo já tivemos muitos criminosos barbaros, mas sempre teve alguem, uma mãe, um pai, uma irmão, um irmão, uma tia, uma lagrima, uma prece, e ele nada teve. De mim tem, que Deus tenha compaixão da alma dele e que me condenem quem quiser, pois estou falando de dentro do meu coração. Para as crianças, elas têm o paraíso.

Quero escrever sobre esse acontecimento bárbaro, mas vou na linha do que ela disse.

Tema Gratuito em Português para WordPress

Há muito tempo eu usava o gratuito tema iTheme para WordPress, que traduzi para o português do Brasil e disponibilizei de graça.

Agora traduzi um segundo tema, o zBench criado pelo chinês ZWWoOoOo.

Basta baixar este arquivo Zip, descompactar e copiar via FTP os arquivos pt_BR.mo e pt_BR.po para a pasta lang do tema. O caminho padrão é:

/wp-content/themes/zbench/lang

Espero que gostem do download.

A (in)segurança dos bancos

Quando eu era criança minha mãe abriu na Caixa Econômica Federal uma poupança pra mim. A conta existe até hoje, nunca soube qual é a senha, ainda mais porque ela está vazia. Sabe como é… a década de 80 foi complicada: superinflação, Plano Cruzado, Plano Collor, Sarney…

Conta Poupança na Caixa Econômica Federal na década de 80: senha de 6 números para os caixas.

Quando fui fazer faculdade abri uma conta universitária no Banco do Brasil. Não cobravam tarifa, davam R$ 200,00 de limite, tinha uma agência dentro da UFSCar e meu pai podia me mandar dinheiro lá de São João del-Rei quando a situação ficava preta. Fechei a conta quando vim pra São Paulo.

Conta Universitária no Banco do Brasil no início do século: senha de 6 dígitos para o cartão Visa Electron, caixas eletrônicos e Home Banking. Senha adicional de 4 dígitos para a Internet.

Quando comecei a trabalhar tive de abrir uma conta no Bradesco e o melhor: não pagava tarifa, além do que tem agência em tudo quanto é lugar, inclusive nos Correios. Parei de usar quando mudei de emprego.

Conta Corrente no Banco Bradesco em 2010: senha de 6 dígitos para o cartão de débito Visa Electron, senha de 4 dígitos para o cartão de crédito Visa, senha de 4 dígitos para o Home Banking e tele-atendimento e cartão de senhas com 50 senhas para o Home Banking.

Agora que mudei de emprego tive de abrir uma conta no Santander. Apesar de não pagar tarifas, desisti de usar quando soube do número de senhas diferentes que teria de memorizar…

Conta Corrente no Banco Santander nos dias atuais: senha de 4 dígitos para o Cartão de Crédito/Débito Visa, senha de 4 dígitos para o Cartão de Crédito/Débito Master Card, senha de 6 dígitos para a Internet, senha de 4 dígitos para o tele-atendimento, cartão de senhas com 50 senhas para a Internet, senha de 6 dígitos para o tele-atendimento, senha de 3 letras para o caixa-eletrônico.

Como é que um banco pede pra um reles mortal manter 7 senhas diferentes para utilizar seus serviços? Imagina um idoso com Mal de Alzaimer ou uma pessoa com dificuldade em decorar números… com certeza vai anotar tudo em um papel ou usar a mesma senha nos 7 lugares, ou seja, pra quê isso?

Windows 7 reiniciou do nada

Que estranho, hoje estava usando o computador quanto ele do nada reiniciou… mas de forma organizada: foi fechando os programas, parando os serviços e reiniciou…

O evento abaixo foi gerado:

O processo C:\Windows\system32\services.exe (DESKTOP-SP) iniciou reiniciar do computador DESKTOP-SP pelo usuário AUTORIDADE NT\SISTEMA por este motivo: Não foi encontrado um título para esta razão
Código de razão: 0x30006
Tipo de encerramento: reiniciar
Comentário: O Windows deve ser reiniciado agora porque o serviço Chamada de procedimento remoto (RPC) foi finalizado de forma inesperada

Aparentemente o Windows detectou algum vírus ou trojan no computador, parou tudo e reiniciou.

Memórias do Colégio

Lembro-me de quando ainda estava no colégio e escrevia redações semanais para as aulas de Literatura ou Português, interiorizando o conhecimento linguístico e também nos praparando para o vestibular.

Eram temas diversos: atualidade, história, retórica, romance, carta, mas sempre com um número mínimo de palavras e a exigência de seguir as normas cultas do português.

Tínhamos um livro de redações onde as passávamos a limpo as redações prontas antes da professora corrigir. Fazíamos a capa desses livros e ao final do ano virava uma verdadeira obra de arte.

Lembro-me de ter feito vários livros destes nos anos em que estudei, mas não me lembro do teor de nenhum texto meu. Recordo-me de que alguns foram considerados “o melhor da turma” e lidos pela professora na frente de todo mundo… então deveriam ser razoavelmente bons.

Quando voltar na casa de minha mãe quero achar esses livros e publicar aqui no blog os textos, pois tenho certeza de que nós guardamos. Vai que tem algo bom!?

Existe guerra entre ciclistas e motoristas?

Segundo essa matéria da Folha de São Paulo entitulada “Com “bicicletadas”, ativistas declaram guerra aos “monstroristas”“, existe uma guerra ocorrendo entre ciclistas ativistas e motoristas.

“Monstroristas”, “mautoristas”, “frustrados que compraram carro para respirar fumaça”, “covardes”. É assim que ciclistas engajados na defesa do uso de bicicleta como meio de transporte urbano chamam motoristas de carros, ônibus e afins.

Eu sou um ferrenho defensor do uso da bicicleta como um meio de mobilidade urbana, mas em momento algum eu me comporto como a matéria diz que eu supostamente me comportaria.

Nunca havia visto a @folha_com se posicionar tão radicalmente em uma matéria, generalizando um comportamento a um grupo de pessoas. É como se tivesse dito que “todo político é corrupto”, “todo alemão é nazista”, “todo baiano é preguiçoso”, “todo arquiteto é homosexual” ou outros impropérios do gênero.

Quando no fim do mês passado Ricardo José Neis atropelou um grupo de ciclistas que estava fazendo uma manifestação pacífica em Porto Alegre, uma grande quantidade de pessoas, incluindo uma grande parcela de ciclistas, se comoveu e bocou a boca no trombone. Matérias foram feitas, notícias foram divulgadas, manifestações foram organizadas, mensagens foram publicadas no Twitter. No entanto isso está longe de ser uma guerra.

A lastimável tragédia provocada pelo monstrorista do Golf preto, como este motorista em particular foi apelidado, permitiu à sociedade como um todo olhar para os ciclistas pela primeira vez. Foi possível escutar suas reinvidicações, perceber suas fragilidades, conhecer seus direitos e também seus deveres, que alguns ciclistas deixam de cumprir, infelizmente.

Com o lema “Mais amor, menos motor“, a Bicicletada, uma manifestação que defende a pacífica convivência entre automóveis e bicicletas, quer que ocorra essa discussão na sociedade, de forma sadia. Não quer uma guerra. Não quer que ciclistas sejam odiados. Quer paz.

Banksy: flowerchucker

Banksy: flowerchucker - A Guerra que a folha idealizou

Fazenda colonial para voltar no tempo

Geraldo da Costa Carvalho nasceu no início do século passado em uma pequena fazenda no interior das Minas Gerais, cercada de montanhas verdes, riachos de águas cristalinas e uma tranquilidade inimaginável nas metrópoles atuais.

Janela da cozinha da Fazenda Geraldo da Costa Carvalho

Janela da cozinha da Fazenda Geraldo da Costa Carvalho

Viveu em uma época na qual ter 16 irmãos e 11 filhos era comum. A vida girava ao redor da fazenda, o coração que mantinha a família unida e próspera. Era uma fazenda que muito bem poderia ter sido a Fazenda Buquira onde Monteiro Lobato idealizou o Sítio do Pica Pau Amarelo, Dona Benta, Tia Nastácia e toda a turminha. Os filhos cuidavam e brincavam com os animais, subiam em árvores, nadavam nos córregos, corriam e andavam a cavalo pelos pastos, viviam em contato direto com a natureza, vivendo as verdadeiras reinações de Narizinho!

Jequitibá em pasto da fazenda

Jequitibá em pasto da fazenda

Os leitões viviam soltos e quando cresciam viravam toucinho, bacon e lombo, que viajavam salgados nas bruacas de burros, conduzidos por tropeiros até o mercado de Ouro Preto. A ordenha matinal nas vacas leiteiras provia todo o leite para a família e o excedente era colocado na beira da estrada para o caminhão de leite vender na cidade. As galinhas botavam os ovos, o queijo e a manteiga eram feitos ali mesmo, o moinho incansavelmente movido pela água transforma o milho colhido na roça em fubá, matéria prima para o angú e a broa. Era da própria horta onde saíam todos os legumes e verduras para a apetitosa comida mineira feita no tradicional fogão a lenha. Não há como esquecer das frutas do pomar que quando não eram consumidas in natura viravam deliciosos doces, geleias ou compotas.

Eli Carvalho comendo jabuticabas no pomar

Eli Carvalho comendo jabuticabas no pomar

Quando todos os filhos já estavam grandes e independentes, Geraldo e Mariazinha se mudaram para a cidade e por vários anos a fazenda ficou abandonada. Quando os dois partiram deixaram a fazenda de herança de uma forma peculiar: a casa, o pomar e a horta não poderiam ser vendidos e nem ser propriedade unicamente de um dos filhos, deveriam ser de todos os 11 filhos.

Uma das salas da Fazenda Geraldo da Costa Carvalho

Uma das salas da Fazenda Geraldo da Costa Carvalho

A ampla casa da fazenda foi totalmente reformada, os móveis foram trazidos de volta da cidade e algumas pequenas adaptações foram feitas: colchões novos, dois banheiros com chuveiro elétrico dentro da casa, churrasqueira e um fogão a gás para quem não tem traquejo com o a lenha. Mesa de sinuca, ping pong e TV com antena parabólica foram instalados no porão onde o queijo era feito e as ferramentas armazenadas.

Mesa de Ping Pong no porão

Mesa de Ping Pong no porão

Com a bucólica vida de volta à fazenda os 11 filhos passaram organizar encontros familiares semestrais, onde à beira do fogão à lenha relembravam histórias da infância na fazenda, povoando o imaginário de netos e bisnetos, cidadãos urbanos, alguns que sequer haviam visto uma galinha além dos fantoches do Cocoricó na TV Cultura.

Os 10 filhos prsentes na reunião familiar de 9 de Março de 2011

Os 10 filhos presentes na reunião familiar de Julho de 2007, antes da última reforma

Numa dessas reuniões surgiu a idéia de permitir outras famílias que não a Costa Carvalho a vivenciar os encantos de um fim de semana na Fazenda Geraldo da Costa Carvalho, com passeios a cavalo, acesso irrestrito a cada canto da fazenda e uma cozinheira exclusiva para pilotar o fogão a lenha, conhecedora da tão prestigiada culinária rural mineira, com direito a pães de queijo, broas, frango com quiabo, costelinha com canjiquinha e outras delícias.

Primeira vez que neta de Geraldo da Costa Carvalho monta em um burro

Primeira vez que bisnetaneta de Geraldo da Costa Carvalho monta em um jumento

Quem quiser mais informações pode entrar em contato com a Via Gerais no telefone (31) 3762-9124 ou com Ilca Carvalho nos telefones (31) 3752-1253 ou (31) 8797-2599.

A fazenda (clique aqui para ver no Google Maps) fica a:

  • 7km de Catas Altas da Noruega
  • 47km de Conselheiro Lafaiete
  • 71km de Congonhas
  • 88km de Ouro Preto (ou 55km por Santa Rita)
  • 102km de Mariana (ou 69km por Santa Rita)
  • 147km de Belo Horizonte
  • 151km de São João del-Rei
  • 384km do Rio de Janeiro
  • 627km de São Paulo

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade

A carta a seguir – tão somente adaptada por Barbosa Melo – foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental e empresário, diretor de Parque Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.

Prezado Luis, quanto tempo.Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo… hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro… Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ..) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do
Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)